domingo, 26 de julho de 2009

Capítulo 17 - Nínguem vê a roupa do Rei

Mal fechei a porta atrás de mim e ele pos-se a falar.
- Sabe, eu cresci numa terra longe de qualquer lugar que tenha ido, lá era bem diferente. - fez-se um silêncio e prosseguiu - Quando jovem, acordava e ia direto a um vale próximo, só para admirar um fruto da natureza. De meu lar poderia ver, mas gostava de sentar no gramado e deixar o vento tocar-me, talvez como um toque mais perto à aquele que o fruto dava ao meu espirito. Eram assim todas as manhãs, desde quando me lembro. Sentar e passar um tempo, não calculado ou estipulado, apenas em observar uma filha da flora que não existia em nenhum outro local que meu povo sabia, e deixo uma nota de que sabiam mais do que possam as aparências dizer. Não importa à quem pudesse perguntar, todos diziam-me o mesmo, que, aquela flor, e eu não havia de encontrar outra igual, era a mais bela e única. Uns diziam que era uma benção da natureza, outros, que seria obra dos deuses. Uns mais fechados falavam de ser a arrogância personificada, mas creio que não mais do que a de seus corações. Ainda haviam os que diziam ser esta apenas uma flor. Seja o que digam, para mim e muitos dos quais todas manhãs, ou, no percorrer do dia, iam à observá-la, era mais do que um composto orgânico comum.
- Olha-la era como sentir a felicidade, a paz, a manifestação da vida trazida ao vale pelos doces ventos do norte, inegável não brotarem sorrisos no rosto de todos que perduravam à rotineira visita, e digo, que até os gélidos corações dos que viam, na mais singela manifestação da perfeição na natureza, não uma força para melhorar, mas a força para invejar, estes haviam de sorrir, mesmo que seus músculos faciais esquecessem-se de como o fazer.
- E lá estava todos os dias e noites, na encosta mais íngreme, onde o acesso não existia, o que eu muito agradeço e agora entendo a beleza de nunca poder aproximar-me tanto assim.
- Quando jovem, e não só a mim, entristicia-me muito não poder chegar perto para sentir seu aroma, sua textura, embora o vento tocasse meu coração e sua idéia o meu espirito, minha pele e meu olfato não compreendiam a negação. Não ousava, e como disse, isso não acontecia só a mim, outros que eu conhecia, pulavam do penhasco a fim de saboreá-la mesmo que pouco na descida perigosa e mortal.
- De qualquer forma, não haviam relatos do que, ou se, conseguiam senti-la mais. Outros tentavam escalar, mas o rochedo era tão cortante que a mais grossa luva não resistia à meros dois metros alcançados. Como ficava próximo a costa, alguns tentavam alcança-la do topo de naus, mas nada conseguiam alem de dor e machucados.
- Mas as coisas começaram a mudar quando "os outros" chegaram e a cobiça eclodia de seus olhares. Eles não à queriam. Necessitavam-na.
- Porém, ao contrário de nós, eles não cansavam de tentar. Todos nossos erros foram repetidos. Não. não nos ouviam. Creio que isso seja algo natural, por mais que sabia-se algo, só se há de compreender quando senti-lo, mesmo que isso signifique dores e até perdas.
- Eles tinham muitos equipamentos que nós não tinhamos, mas não por falta de saber, por falta de necessidade, só para isso havia, e creio que há, lógica em criar-se algo. Mas o fato é que eles criavam suas necessidades e pelo visto - olhou em volta, demorando-se mais nos barrís com pólvora, nas bolas de canhão e fardas velhas ao canto. Terminando por olhar a espada em meu cinto. - ainda criam.
- E foi então que a paixão por tal necessidade os fez cegar para o que tanto o apaixona. E resolveram mirar vários canhonetes de suas naus à encosta, para quem sabe assim, trazer para perto o brilho que os inspirava. Que os prendiam. Mas os limitava à suas miopias.
- O braço do líder acenou e ouviu-se um estrondo. Este ligou-se ao dos rochedos, finalizando-se na encosta. Destroçado. Espatifado como se fosse uma vidraça vitima de um golpe rápido e violento.
- Lembro que quando a fumaça começou a despersar-se, "os deles" que residiam em solo correram, e na encosta destruida uniram-se aos vindos por pequenas embarcações. Vasculharam por além do tempo. Sóis percorreram os céus até que por fim a encontraram. E lembro-me do que aclamavam na inocencia do momento.
" - Era isso? Foi esta mísera rosa que fez-nos sacrificar vidas, semanas e noites sem dormir? Poderiamos estar conquistando vários povos, riquezas e mulheres. Olhem! Nem tem cheiro!" - riu exageradamente com a flor, de caule amolecido pela água marinha, caída em seus dedos como um cadáver nos braços de seu amado - "Desperdício." - retrucou seriamente e a jogou no rochedo. - "Venham homens! Talvez ainda não tenha sido tudo em vão." - Olhou para todos nós amontoados, vendo tudo que se seguira a uma distância.
- Meus olhos não sairam da flor caida dentre as rochas. Nem apercebi-me o que mais eles fizeram ou disseram em seguida. Queria-a. Não mais para saborear os sentidos, mas porque algo em mim doía. Talvez fosse o vento frio que do norte vinha.
- Assim que afastaram-se, corri para lá e ao aproximar-me, a vi toda esfarelada. Suas pétalas estavam quebradiças. Seu brilho não existia. E embora seu caule não quebrara, amolecera. Suas folhas encolhiam-se como que querendo abraçarem-se. Fechando-se para poupar algo. Não haviam raizes. Nem vestígios de que alguma vez houve. Ao poucos fora chegando mais perto e assim que minha mão estava para fechar-se sobre esta, o vento forte pegou-nos, e ela como que flutuou à minha frente e esfarelou-se no ar. Em seguinda, a poeira espalhou-se adiante, para assentar-se entre rochas que eram engolidas periódicamente pelas ondas.
- Um conflito enorme habitou-me. Porque a flor temia-me tanto a ponto de pedir aos ventos, que tanto traziam sua vida ao meu coração, para destruí-la de modo a não residir nada alem de folículas cristalinas que despersavam-se no mar. Porque havia de ficar desmanecida senhorita na mão de seu assassino e de mim fogias?
- Sem mais fazer além de questionar e lamentar-me. Fiquei mais uns instantes à observa-la liquifazer-se completamente. Por fim virei-me, e sem olhar para trás, por estar um tanto ressentido por esta, minha adoração de tantos tempos e minha fiel testemunha, ter-me abandonado assim. Caminhei lentamente para longe dali. E foi então que, ao saltar as ultimas rochas próximas no gramado, vi um brilho sob uma pedra.
- "Era ela? Não podia ser, desfez-se no mar. Mas então o que seria?" - Indagava-me parado no gramado.
Quando cheguei à pedra, e fiz menção de move-la, tornou-se muitissima pesada. Não conseguia tirá-lo. Desesperado, cai de joelhos e estive à chorar por sobre o arenito. Tamanhas lástimas que me acompanhavam neste desespero. Primeira fora a chegada desses "outros". Depois sua sagaz perseguição à nossa adorada. Por fim essa destruição cega.
As lágrimas caiam. Ao toque da primeira, a pedra imóvel, quebrou-se em grãos.
E assim percebi que, ali estava-a, ao meu alcance, sem ventos. Uma pétala.
Não pude esconder a alegria. Segurava na ponta dos meus dedos. Firme. Delicado. Sua textura era como minha pele, e ao toque, eram como gêmeos tocando-se.
Seu aroma mudava-se constantemente, desde a maresia ao perfume dos girasssóis ou cidreira.
- Infelizmente para nós, que habitavamos o não-tempo, minha alegria não passou despercebida e logo ouvia-se gritos e correria. Lembrei-me que não estava mais sozinho, que estava em minha terra, com meu povo, e ao virar-me, vi, "eles"correndo em minha direção. Não entendia o que diziam. Ameaçavam com olhares e gestos. Até que um deles arremessou-me uma garrafa que estivera bebendo para suprir a frustração vivida. Embora fosse comum e toleravel, não senti medo ou desespero, apenas voltei minha atenção para minha mão, onde jazia a doce pétala, tão macia. Tão adocicada em sua presença e vida. Até que ouvi o que precisava ouvir.
"- Proteja-me."
- E assim o fiz.
- Sabe, meu amigo. Depois, nos meus anos seguintes, e até agora mesmo, sempre estou a pensar e sentir aquele momento, e creio que hei sempre de compreender algo a mais que ele tem a mostrar-me. E pensar que o Possuir pode ser tão desejado assim. Mas nem sempre há de ser o Melhor, não é?
O que o necessidade criada pode gerar para todo o resto. Como, a compaixão de Desdemona em deleitar-se nos braços de Otello. O mal de um pode ecoar no receio pelo todo o resto, e querer a solidão de desmanchar-se ao mar à ter de tentar mais um toque. Da esperança perdida sob a mais dura rocha, que ainda sim é frágil perto do amor. Amigo, ja viu algo que pode não representar nada para alguem e absolutamente muito para outrem? Creio que o maior valor não está Naquilo que é JOGADO, ou julgado pelos outros, mas pelo sentimento que firmamos com nossa adoração, algo que só nós, e digo, SOMENTE NÓS êmos de compreender e VER sua verdadeira beleza.

Após ouvi-lo atentamente, não quis nada perguntar e saí.
Fôra ao convés olhar as estrelas.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Capítulo 15 - O Caçador-de-Estrelas

Na terceira noite, não conseguia dormir. Após tanto relutar resolvi por arejar-me com a brisa noturna e passear pelo convés.
Após subir as escadas de minha cabine para o belo céu, deparei-me com um ser enrolado numa manta, parado, olhando fixadamente à esquerda da nau. No horizonte.
De imediato espantei-me e recuei uns degraus, de modo a não ser visto. Porém, uma esperança residia em mim de que fosse o jovem que sumira há alguns dias, e como prometera, estava de volta. "Loucura! Ele não voltaria. Ele não vai voltar! Como um Francês que, sob guarda pesada, fugira de um Navio Inglês, levando consigo informações, voltaria para este?" - Enquanto questionava-me, embora atento, não demorou e ouvi:
- O céu está sempre lindo, não é?
Ainda sem ação não movimentei nem um pensamento.
- Venha, veja-o. - chamou.
Lentamente subi os degrais restantes. Sempre a observá-lo. Os pensamentos começaram a acelerar-se e as duvidas saiam de minha boca.
- Como voltou? Quando chegou? Como? Por que?
Ainda sem se virar a mim, respondia:
- Eu disse que voltaria, não existe o porquê não voltar.
- Como um prisioneiro desaparece numa tarde, sem levar qualquer pertence, desde suas roupas, algemas, barco, até mesmo sua garrafa estranha, e reaparece 3 dias depois no meio da noite? Porque um priosioneiro voltaria? Como saiu?
- Voltei porque precisava voltar. Olhe o céu.
- Mas então por quê fugiu? Como saiu daqui? Ordenei buscas e nada foi encontrado ao redor. - Aproximava-me agitado.
- Não fugi. Avisei que precisava ir, mas que voltaria brevemente. - respondia com sua típica serenidade.
Tais palavras iam me enfurecendo. "Como ousa falar comigo como à um amigo? Como ousa não olhar-me?"; Tantas perguntas alimentavam minha insatisfação que perdia-me nestas.
- Foste avisar seus compatriotas, não é Francês? Não vejo mais motivo para poupar-lhe - dizia enquanto caminhava ferozmente em sua direção, desembanhando minha arma.
Ele, nem mexia-se. - Francis sempre teve razão, viva dizendo-me: "Capitão, ele só há de trazer-nos problemas! Livre-se dele!" - Aproximei-me apontando a arma à sua cabeça.
- Estranho como a beleza das estrelas como hoje, traz-nos tanto frio, mas se estivessemos muito perto, haveria de queimar. Haverá de ser assim com todas as belezas?
Aquilo travou-me novamente. Como um maldito francês poderia destruir tamanha estrutura mental. No caso, esta minha vontade assassina. Assim como nossos canhões destruiram os grandes espanhóis. Enquanto inocentes, poderosas são suas palavras. Seriam manipuladas?Maldosas? Engenhadas numa mente brilhantemente criada como que uma "Inteligencia bélica?" Não. Não haveria de ser, não cabem maldizes e doçura num mesmo olhar como o seu.
- Quem é você? - Questionei afavelmente.
- Sou o Francês. - riu - Olhe! Olhe! Uma estrela cadente - apontava fervorosamente. Tanto que seu manto caiu e vi que seu corpo estava desnudo. Tambem não haveria de ser diferente. Quando fora, deixara suas roupas aqui. Rapidamente desci as escadas e fui à dispensa, onde estavam suas vestes. Peguei-nas e trouxe à ele.
- Deixou-as quando foste.
Olhou a mão estendida e pegou os tecidos sujos.
- Ja se foi.
- O que?
- A Estrela-Cadente.
- Não faz mal, estas sempre são vistas nos mares noturnos.
Virou-se para mim e encarou-me com certa magoa e surpresa.
- Diz isso por acreditar que sempre há de poder vê-las. - fez-se um silêncio enquanto vestia sua farda e logo prosseguiu - Numa ilha longe daqui, haviam tantas casas grandes, dessas que soltam muitas nuvens negras, que não podia-se ver o céu. Não sabia-se se era dia ou noite. Baseavam-se num grande relógio de engrenagens que existia na grande torre do campanário local. Um jovem em particular, desde pequeno ouvira história de seu avô que quando este era garoto, o céu tinha cor, brilho, e por esse brilho faziam suas vidas; Quando estava claro, muito claro, despertavam, andavam livremente, corriam sem medo de cairem, os mais adultos trabalhavam, e conforme este escurecia, não para ficar como o de hoje, o avô dizia, mas num negro límpido, onde podia-se ver as falhas no manto escurecido Pequenos furos que mostravam a luz por detrás. Eram chamadas de Estrelas. Mas o céu logo voltaria a dar vida à rotina, assim, nesses momentos descansavam em seus lares, aguardando o novo renascer.
Conforme crescia, inspirado pelos contos de infãncia, ele resolveu ser um Caçador de Estrelas. Prometera a si mesmo e a memória de seu avô que as encontraria, onde quer que estivessem, e assim tentou. Andou anos e anos, por todo território que pudera, onde era e não conhecido. Seus olhos só haviam de ver àquela massa cinzenta flutuante.
Uma vez, lembra-se que em uma ventania que surgiu, daquelas fortes à ponto de destruir vilarejos inteiros, de ter visto de deslumbre um brilho diferente dentre as nuvens negras, e desde então, dizia às pessoas que não temessem os ventos, pois estes seriam portadores de grandes belezas e não só mensageiros de destruições.
Perto do fim da vida, decepcionado e desanimado, resolvera finalizar-se nas calderas destas grandes casas. Após adentrar-lhe, viu que ali era a fonte das nuvens negras. Que tal progresso trazido por elas era a fonte de uma vida acinzentada, e ao olhar para cima, sem a menor esperança e desejo, viu as estrelas brilharem para ele! Ali! Onde surgem fumaças que as escondem. Ali, seria o local perfeito para vê-las ainda inocentes sem saber o que aquele local fazia à seus adoradores. Suas lágrimas, embora de um garoto, de um avô, de uma civilização inteira escorrecem num corpo velho, evaporavam antes de tocarem-lhe o peito.
Enquanto mirava-se o alto, não percebera que iniciava-se em chamas e que abriram a portinhola afim de que saisse. Salvasse-se. Seu corpo envelhecido não mais suportando seu peso, desaba nas brasas e ainda mantinha-se com olhos ao alto. Há quem jura que ouviu-lhe repetir algumas palavras:
"- Para voltar a ver-se estrelas, não há de temer queimar-se."

O silêncio permaneceu um certo período. Levantei minha visão para o céu a que tanto o francês se dirigia e fiquei por admirá-lo um pouco.
- Então Capitão. - disse instigando-me à algo, acentuando com o olhar - Posso chamá-lo de Amigo ?
- Pode. - e um sorriso sincero surgiu - mas ainda assim terei de mantê-lo preso lá embaixo.
- Lá nem é tão quente assim. - disse alegremente enquando desciamos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Capítulo 23 - A Garrafa

O Francês aproximou-se e disse:
- Poderia devolver minha garrafa?
Silenciado e pensante fiquei. Porque havia tanto de pedir esta velha garrafa que nem mesmo os mosquetes e o canhonete pode destruir? Lacrada por uma simples rolha que não podia ser tirada, mantendo aquela fumaça cinza aprisionada neste frasco outrora transparente, mas meus pensamentos foram interrompidos.
- Amigo? - chamou-me com olhar indagador sob meu desvaneio.
- Sim, desculpe-me, posso sim - respondi prontamente enquanto dirigia-me a cabine próxima e peguei minha bolsa de couro indiano. - Aqui está. - Tirei-lhe sua desejada garrafa e dei mais uma olhada antes de passar a suas mãos, continuava enegrecida.
- Obrigado. - Respondia enquanto seus olhos umideciam de alegria ao vê-la. - Obrigado, meu amigo.
Tão quanto passou a suas mãos a fumaça agitou-se e a transparência ressurgiu, tamanho choque ao ver isso que tentava em vão abotoar a bolsa, meus olhos fixaram na mudança do frasco indestrutivel.
- Co....mo....isssso? Co...mo fe.....z iss.....sssooo?
Parecia não me ouvir apenas admirava o que agora reluzia em seu interior.
- Co....moooo que....
- Sabe, meu amigo, faço com o Amor.
- Amor? O que Amor tem a ver com isso?
- Tudo, capitão, tudo. - silenciou, mas antes de continuar a lhe questionar prosseguiu virando-se para a o céu limpido à frente. - Amar é como pegar uma rocha e ver nela a estátua que está oculta, e embora levem meses e as vezes anos, despertá-la e trazer aos olhos do mundo a mais bela arte-forma.
- Mas.....
- E o Amor - continuou aproximando-se da proa - é a consumação de que és rocha e artista. Pegue-a - estendeu-me o braço com a garrafa agora trasparente.
Sem questioná-lo o fiz, mas quando estava para tocá-la, ele a soltou e assim caiu, caiu, caiu..... e enquanto caia, vi que no seu interior residiam pétalas..... A garrafa tocou o chão e no mesmo instante espatifou-se em milhares de pedaços, espalhando-se por todo convés. Eu, que não havia me preocupado com seu cair sendo ela indestrutível, num ato desesperado tentei segurar os pedaços que voavam.
Ele não parecia se importar, olhando o horizonte negro desta bela noite, e disse como que lendo minha mente.
- Deves tomar cuidado para que a certeza da cura não o acomode da tentativa de evitar a dor, o caminho pelo o qual chega-se é tão mais importante que o tempo decorrido e o local final.
- Mas......mas....... - dei por fim - desculpe-me!
- Estas não existem.
- Como não? Achas que não me importa?
Fez-se em silencio.
- Francês?
Sorriu e virou-me.
- Porque chamam-me assim? Uma roupa é motivo para ter alguem por inimigo e julgar sua existência a ponto de terminá-la ou não?
- Não és Francês? - Perguntei receosamente
- Porque haveria de ser? E não preocupe-se com a garrafa, ja estava velha mesmo.
Inconscientemente olhei o chão cheio de pedacinhos de vidro e a culpa me assolava, até que pensei e o fiz, peguei outra garrafa vazia que havia ali no convés e cuidadosamente coloquei as pétalas envelhecidas dentro, após faze-lo, fechei-a com a mesma rolha que estava perdida por debaixo de umas cordas.
- Novamente, desculpe-me, aqui estão suas pétalas. - estendi-lhe o braço.
Virou-se novamente e sorriu.
- Não são mais minhas pétalas. Esta Garrafa é Sua.
Ao dizer isso olhei-a e vi que dentro dela havia uma linda rosa, tão linda como jamais havia visto, estava inteira, com caule, espinhos e folhas, cheia de vida e parecia brilhar.
- Engraçado, ela fica mesmo enegrecida para outros. - disse-me achando graça. - Tome cuidado, ela é muito frágil em Suas Mãos.
Furioso com tamanhas maluquices, falava algo entre perguntas sobre tudo isso que ocorrera e xingamentos por suas retóricas, talvez num recém-despertado ego de capitão, a qual este jovem amigo havia adormecido.
- Sabe, amigo, - disse calmamente enquanto subia no parapeito frontal - muitas vezes, estamos sentados há tanto tempo, que acabamos por esquecer o quão alto somos e podemos alcançar.
E antes que pudesse ouvir tudo que dissera saltou.
O Silêncio de seu salto ecoou lento, o tempo passara mais vagarosamente, seu corpo não mais descia, continuava a subir e subir, num inexplicavel vôo que desapareceu no breu daquele limpido céu de primavera.
A Garrafa enchia-se de vida. Minha vida. Furioso com tal loucura presenciada, arremessei-a na direção de seu vôo. Mesmo assim ainda pude ouvir claramente uma voz vinda dos céus.
- Ela ainda é sua.....Ainda é Sua!

Uma Homenagem à com cicatriz na cabeça {nao corrigido}

Sentado sob o sol, lendo Machado, ela deitava em meu colo, demorava-se a ajeitar-se, queria caber totalmente em minhas pernas magras, abraçava-me do jeito que sabia. As vezes me olhava, como pedindo atenção, como a que dava a doença de um ciumento. Fazia carinho e seus olhinhos se fechavam como num doce verão na praia. Seus olhinhos sempre me indagavam, eram em formato diferente, tal qual os de muitos hieróglifos e paredes egípcias. Seu olhar me dizia que não era acaso eu ter-lhe tirado das ruas ha pouco mais de uma semana, e que não mais importava-se em ter fugido ou sido abandonada, tudo que havia de existir e importar era aquele colo e aquele carinho no pescoço. Pena só termos tido um momento assim, que nao durou tanto quanto poderia, mas lembro-me dela vir me acordar num certo domingo, de suas corridas explosivas para tamanhas patinhas, de quando aprendeu a pular em minha janela e chorava tempos e tempos até receber devida atenção e carinho, o que sinto dizer, algumas vezes demorava um pouco a acontecer.
Tentei conciliar essa nova moradora com as antigas, mas a possessão territorial era mais forte, e brigas aconteciam. Sabendo disso desde a primeira, não permiti mais que acontecessem e achei melhor faze-las entenderem que a convivencia poderia ser boa e harmoniosa, que poderia coexisitir num meio agradavel sem perderem nada. Mas tal plano fora estragado pela ignorancia, revestida de boa vontade com cheiro de desespero instintivo, e o medo alojou-se nas velhas moradoras e o autoritarismo na nova. Tentei reverter, mas a ignorancia não se cansava de tentar SALVAR O MUNDO. A desesperança reinou-me, nada mais em meu saber me indicava um caminho; a repulsa pela nova, ou melhor, a repulsa pelo medo das antigas, fez a ignorancia cuspir a nova aos ouvidos alheios. Alguem ouviu. Alguem veio e a retirou no mesmo dia que lêmos Machado. Não pareciam se importar. Não se importavam. Bom, ao menos seus descendentes rentaveis lhe faziam pensar em cuidar melhor da menina de olhos egípcios. Ao menos até te-los e estes os venderem. EXTRA! EXTRA! MÃE LOIRA, PAI LOIRO, RUSSOS! TRIGÊMEOS À VENDA! JA VACINADOS E COM FRALDAS. Triste. Comum. Enquanto saia. a ignorancia agradava seus resgatadores, tal qual um ferido agradece aquele que lhe salva de um mal, tal qual a simples cachorra fosse uma doença adentrada na mente das antigas, que temem o que desconhecem. Seu olhar era perdido, sem entender o que iria acontecer, o que estava acontecendo. Por um momento senti chamando-me para salva-la, mas a ignorancia lustrava bem demais os convidados a ponto de tirar-me a voz e a vontade. Por fim, Foste. Consigo levou a energia de belos latidos, choros e boas lembranças. Eternas lembranças. Triste olhar algo e pensar: NUNCA MAIS VOLTAREI A VÊ-LO, sejam lugares, pessoas ou patos. Afasta-te deste lar e a luz apagou-se; eletricidade acabou por um tempo; Um minuto de silencio, pois mesmo que breve, levou em seus olhos egípcios, a luz desta casa; a luz de meu secreto sonho que confirmou-me no tocar de nossos narizes. Saudades Salsicha.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Na Livraria

A menina entrou. Foi rápida a seção de literatura extrangeira. Nada achou. Foi a seção de ciencias sociais. La estava. Abraçou-a amavelmente. Um doce sorriso surgiu em seus rostos. A segunda olhou quem a abraçava. Seus olhinhos se encontraram num brilho intenso. Mais sorrisos. As cabeças se aproximavam lentamente. Seus olhos fixavam-se nos lábios alheios. Se Fechavam. O corpo virava suavemente. O braços se encaixavam. Os lábios encontravam-se num prelúdio. A cabeça tombava inconscientemente. As boquinhas alternavam-se nos toques. O abraço as aproximava. Suas respirações intensificavam. Alguns começavam a por reparo. O mundo não existia para elas. A saudade morria. O sorriso brotava entre os beijos. Seus olhos se abriam novamente. A primeira balbuceia palavras:
- Oi Amor.
Embora substantivo masculino, para seu valor não há regras.

Um Bom Filme

Caminhando uma tarde pelas ruas do centro velho e como de costume, observando cada detalhe que podia firmar em minha mente no intervalo dos passos apressados e cuidadosos, afinal o corpo pendia para trás, onde sustentava-se o instrumento, eis que numa esquina, onde a noite funciona um sushi-bar porém, agora, estava quieto e fechado, havia um velho senhor, roupas simples, sentado em uma cadeira posta próxima ao encontro das ruas, e em suas mãos estava um binóculo.
Por este observava a rua que seguia ao centro.
Olhei, olhei e nao via nada fora do comum que exigisse minha atenção, as calçadas estavam vazias, nao haviam carros circulando na via, nada a ser observado. Olhei novamente para ele, e continuava observando. Tentei traçar uma reta de sua direção, pois talvez estivesse vendo um prédio ao fundo das casas, ou alguma mulher escondida por grades e janelas, (afinal, mulher sempre há de ser um assunto em inicio de conversas, curiosamente hei de dizer, já que parece que aquele que vê primeiro um traseiro feminino, o menciona aos outros com certo status de poder, como que se aquela mulher fosse sua, mas concedesse a seus súditos uma breve olhada de cobiça sobre sua tão estimada fortuna.) mas nada novamente, a reta de observação me levou a uma casa no meio do próximo quarteirão, e de tal ângulo não se podia ver nada além de sua fachada.
Haveria de estar observando mini-raxaduras.
Este, talvez, "pedreiro/engenheiro/arquiteto aposentado"? Não, com certeza não seria isso. Não fazia sentido, simplesmente não fazia.
Talvez esperasse alguem sair, poderia até ser se, não tivesse começado a rir enquanto eu ainda olhava a paisagem imutável.
Olhei-lhe e este realmente nem se dava por minha presenca de 1,90 m, realmente nada existia senão sua vista proporcionada pelo objeto em suas mãos. Seu sorriso era doce, seu rosto se dobrava inteiro e o som era como de uma crianca que alegrava-se com a chuva, com as nuvens, com o mais simples e verdadeiro presente.
Eu, alternava o olhar para ele e sua paisagem alegre e nada via, senão o rosto que alegrava-se e não era de deboche de seu novo e "intrigado parceiro", sorria sincero como que vendo um bom filme, e creio que foste isso! Um Bom Filme! Que haveria de estar gravado sob as lentes do tempo, sob as lágrimas dos olhos, sob o sorriso das experiências, sob as vivências de amor. Aqueles olhos eram testemunhas inigualáveis do mundo, gigas e gigas de vídeos inimagináveis, agora então, expandidos por óptica moderna. A casa não mudava, mas o ser mudou! O Ser muda a todo instante! O que via? Talvez, sua infância brincando naquela calçada com irmãos e primos? Talvez, o primeiro beijo na bela vizinha que mudou-se para longe e levou seu coração e sonhos? Talvez, as primeiras lágrimas da ausência de um pai, uma mãe, um parente querido. Talvez do mundo que imaginava ou do tempo que tinha pela frente... e que ainda tem pela frente!.....pela frente dos binóculos. O Sorriso continuava, assim como minha curiosidade, a qual não deveria interromper o primeiro, até porque sei que se pedisse o objeto mágico, so veria a mesma parede, talvez mini-rachaduras, pois meus olhos ainda não saborearam a maturidade do tempo para ver pelas lentes a verdadeira alegria da vida.