quinta-feira, 23 de julho de 2009

Capítulo 15 - O Caçador-de-Estrelas

Na terceira noite, não conseguia dormir. Após tanto relutar resolvi por arejar-me com a brisa noturna e passear pelo convés.
Após subir as escadas de minha cabine para o belo céu, deparei-me com um ser enrolado numa manta, parado, olhando fixadamente à esquerda da nau. No horizonte.
De imediato espantei-me e recuei uns degraus, de modo a não ser visto. Porém, uma esperança residia em mim de que fosse o jovem que sumira há alguns dias, e como prometera, estava de volta. "Loucura! Ele não voltaria. Ele não vai voltar! Como um Francês que, sob guarda pesada, fugira de um Navio Inglês, levando consigo informações, voltaria para este?" - Enquanto questionava-me, embora atento, não demorou e ouvi:
- O céu está sempre lindo, não é?
Ainda sem ação não movimentei nem um pensamento.
- Venha, veja-o. - chamou.
Lentamente subi os degrais restantes. Sempre a observá-lo. Os pensamentos começaram a acelerar-se e as duvidas saiam de minha boca.
- Como voltou? Quando chegou? Como? Por que?
Ainda sem se virar a mim, respondia:
- Eu disse que voltaria, não existe o porquê não voltar.
- Como um prisioneiro desaparece numa tarde, sem levar qualquer pertence, desde suas roupas, algemas, barco, até mesmo sua garrafa estranha, e reaparece 3 dias depois no meio da noite? Porque um priosioneiro voltaria? Como saiu?
- Voltei porque precisava voltar. Olhe o céu.
- Mas então por quê fugiu? Como saiu daqui? Ordenei buscas e nada foi encontrado ao redor. - Aproximava-me agitado.
- Não fugi. Avisei que precisava ir, mas que voltaria brevemente. - respondia com sua típica serenidade.
Tais palavras iam me enfurecendo. "Como ousa falar comigo como à um amigo? Como ousa não olhar-me?"; Tantas perguntas alimentavam minha insatisfação que perdia-me nestas.
- Foste avisar seus compatriotas, não é Francês? Não vejo mais motivo para poupar-lhe - dizia enquanto caminhava ferozmente em sua direção, desembanhando minha arma.
Ele, nem mexia-se. - Francis sempre teve razão, viva dizendo-me: "Capitão, ele só há de trazer-nos problemas! Livre-se dele!" - Aproximei-me apontando a arma à sua cabeça.
- Estranho como a beleza das estrelas como hoje, traz-nos tanto frio, mas se estivessemos muito perto, haveria de queimar. Haverá de ser assim com todas as belezas?
Aquilo travou-me novamente. Como um maldito francês poderia destruir tamanha estrutura mental. No caso, esta minha vontade assassina. Assim como nossos canhões destruiram os grandes espanhóis. Enquanto inocentes, poderosas são suas palavras. Seriam manipuladas?Maldosas? Engenhadas numa mente brilhantemente criada como que uma "Inteligencia bélica?" Não. Não haveria de ser, não cabem maldizes e doçura num mesmo olhar como o seu.
- Quem é você? - Questionei afavelmente.
- Sou o Francês. - riu - Olhe! Olhe! Uma estrela cadente - apontava fervorosamente. Tanto que seu manto caiu e vi que seu corpo estava desnudo. Tambem não haveria de ser diferente. Quando fora, deixara suas roupas aqui. Rapidamente desci as escadas e fui à dispensa, onde estavam suas vestes. Peguei-nas e trouxe à ele.
- Deixou-as quando foste.
Olhou a mão estendida e pegou os tecidos sujos.
- Ja se foi.
- O que?
- A Estrela-Cadente.
- Não faz mal, estas sempre são vistas nos mares noturnos.
Virou-se para mim e encarou-me com certa magoa e surpresa.
- Diz isso por acreditar que sempre há de poder vê-las. - fez-se um silêncio enquanto vestia sua farda e logo prosseguiu - Numa ilha longe daqui, haviam tantas casas grandes, dessas que soltam muitas nuvens negras, que não podia-se ver o céu. Não sabia-se se era dia ou noite. Baseavam-se num grande relógio de engrenagens que existia na grande torre do campanário local. Um jovem em particular, desde pequeno ouvira história de seu avô que quando este era garoto, o céu tinha cor, brilho, e por esse brilho faziam suas vidas; Quando estava claro, muito claro, despertavam, andavam livremente, corriam sem medo de cairem, os mais adultos trabalhavam, e conforme este escurecia, não para ficar como o de hoje, o avô dizia, mas num negro límpido, onde podia-se ver as falhas no manto escurecido Pequenos furos que mostravam a luz por detrás. Eram chamadas de Estrelas. Mas o céu logo voltaria a dar vida à rotina, assim, nesses momentos descansavam em seus lares, aguardando o novo renascer.
Conforme crescia, inspirado pelos contos de infãncia, ele resolveu ser um Caçador de Estrelas. Prometera a si mesmo e a memória de seu avô que as encontraria, onde quer que estivessem, e assim tentou. Andou anos e anos, por todo território que pudera, onde era e não conhecido. Seus olhos só haviam de ver àquela massa cinzenta flutuante.
Uma vez, lembra-se que em uma ventania que surgiu, daquelas fortes à ponto de destruir vilarejos inteiros, de ter visto de deslumbre um brilho diferente dentre as nuvens negras, e desde então, dizia às pessoas que não temessem os ventos, pois estes seriam portadores de grandes belezas e não só mensageiros de destruições.
Perto do fim da vida, decepcionado e desanimado, resolvera finalizar-se nas calderas destas grandes casas. Após adentrar-lhe, viu que ali era a fonte das nuvens negras. Que tal progresso trazido por elas era a fonte de uma vida acinzentada, e ao olhar para cima, sem a menor esperança e desejo, viu as estrelas brilharem para ele! Ali! Onde surgem fumaças que as escondem. Ali, seria o local perfeito para vê-las ainda inocentes sem saber o que aquele local fazia à seus adoradores. Suas lágrimas, embora de um garoto, de um avô, de uma civilização inteira escorrecem num corpo velho, evaporavam antes de tocarem-lhe o peito.
Enquanto mirava-se o alto, não percebera que iniciava-se em chamas e que abriram a portinhola afim de que saisse. Salvasse-se. Seu corpo envelhecido não mais suportando seu peso, desaba nas brasas e ainda mantinha-se com olhos ao alto. Há quem jura que ouviu-lhe repetir algumas palavras:
"- Para voltar a ver-se estrelas, não há de temer queimar-se."

O silêncio permaneceu um certo período. Levantei minha visão para o céu a que tanto o francês se dirigia e fiquei por admirá-lo um pouco.
- Então Capitão. - disse instigando-me à algo, acentuando com o olhar - Posso chamá-lo de Amigo ?
- Pode. - e um sorriso sincero surgiu - mas ainda assim terei de mantê-lo preso lá embaixo.
- Lá nem é tão quente assim. - disse alegremente enquando desciamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário