sexta-feira, 17 de julho de 2009

Uma Homenagem à com cicatriz na cabeça {nao corrigido}

Sentado sob o sol, lendo Machado, ela deitava em meu colo, demorava-se a ajeitar-se, queria caber totalmente em minhas pernas magras, abraçava-me do jeito que sabia. As vezes me olhava, como pedindo atenção, como a que dava a doença de um ciumento. Fazia carinho e seus olhinhos se fechavam como num doce verão na praia. Seus olhinhos sempre me indagavam, eram em formato diferente, tal qual os de muitos hieróglifos e paredes egípcias. Seu olhar me dizia que não era acaso eu ter-lhe tirado das ruas ha pouco mais de uma semana, e que não mais importava-se em ter fugido ou sido abandonada, tudo que havia de existir e importar era aquele colo e aquele carinho no pescoço. Pena só termos tido um momento assim, que nao durou tanto quanto poderia, mas lembro-me dela vir me acordar num certo domingo, de suas corridas explosivas para tamanhas patinhas, de quando aprendeu a pular em minha janela e chorava tempos e tempos até receber devida atenção e carinho, o que sinto dizer, algumas vezes demorava um pouco a acontecer.
Tentei conciliar essa nova moradora com as antigas, mas a possessão territorial era mais forte, e brigas aconteciam. Sabendo disso desde a primeira, não permiti mais que acontecessem e achei melhor faze-las entenderem que a convivencia poderia ser boa e harmoniosa, que poderia coexisitir num meio agradavel sem perderem nada. Mas tal plano fora estragado pela ignorancia, revestida de boa vontade com cheiro de desespero instintivo, e o medo alojou-se nas velhas moradoras e o autoritarismo na nova. Tentei reverter, mas a ignorancia não se cansava de tentar SALVAR O MUNDO. A desesperança reinou-me, nada mais em meu saber me indicava um caminho; a repulsa pela nova, ou melhor, a repulsa pelo medo das antigas, fez a ignorancia cuspir a nova aos ouvidos alheios. Alguem ouviu. Alguem veio e a retirou no mesmo dia que lêmos Machado. Não pareciam se importar. Não se importavam. Bom, ao menos seus descendentes rentaveis lhe faziam pensar em cuidar melhor da menina de olhos egípcios. Ao menos até te-los e estes os venderem. EXTRA! EXTRA! MÃE LOIRA, PAI LOIRO, RUSSOS! TRIGÊMEOS À VENDA! JA VACINADOS E COM FRALDAS. Triste. Comum. Enquanto saia. a ignorancia agradava seus resgatadores, tal qual um ferido agradece aquele que lhe salva de um mal, tal qual a simples cachorra fosse uma doença adentrada na mente das antigas, que temem o que desconhecem. Seu olhar era perdido, sem entender o que iria acontecer, o que estava acontecendo. Por um momento senti chamando-me para salva-la, mas a ignorancia lustrava bem demais os convidados a ponto de tirar-me a voz e a vontade. Por fim, Foste. Consigo levou a energia de belos latidos, choros e boas lembranças. Eternas lembranças. Triste olhar algo e pensar: NUNCA MAIS VOLTAREI A VÊ-LO, sejam lugares, pessoas ou patos. Afasta-te deste lar e a luz apagou-se; eletricidade acabou por um tempo; Um minuto de silencio, pois mesmo que breve, levou em seus olhos egípcios, a luz desta casa; a luz de meu secreto sonho que confirmou-me no tocar de nossos narizes. Saudades Salsicha.

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