quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pituxas

A magrela malhada e a ruiva peluda foram colocadas no veículo.
Viajou-se para outro distrito.
Mais de 20 km o percorreu.
Achou um terreno baldio.
Cercado à madeira.
Uma frestra.
O tamanho necessário.
Colocou-as nesta área não ocupada.
Estranharam esse passeio.
Uma vida dedicada à os que as deixavam agora.
Fechou-se a porta.
O carro distanciava.
As cabecinhas vira-latas diminuem-se.
Seja pela distância ou incompreensão.
Eu, criança, não entendi a simbologia do ocorrido.
Jogava-se fora o celular que saira de moda.
E pegamos a estrada à volta.
Dias depois.
Volta à seu lar, apenas uma.
Malhadinha, cansada, esfomeada.
Volta para o abrigo e a dedicação à seus deuses.
Donos.
Posse.
Volta porque acredita ter sido esquecida.
Sua irmã, ruiva, nunca mais foi vista.
Provavelmente findou-se como uma mancha na estrada percorrida.
Lamentando o acaso que lhe acomete.
Lamenta sem forças.
Corpo destroçado.
Sangue.
Fezes.
Lágrimas.
Tudo mistura-se à poeira da pista.
A irmã tenta fazer algo para ajudar.
Nada pode à ação dos deuses.
Só olhar e lamber o rosto sangrando.
Sua lástima dura o tempo de outro veículo vir.
Destroçar seu crânio no chão quente.
Um CRAK.
Um espirra de sangue.
Um ultimo uivo.
Findou-se a irmandade.
Resta à malhadinha voltar para casa.
Agora sozinha.
Volta e espera o amor à qual dedica-se.
Mas percebe um padrão à palavra AMOR.
O praticá-lo, raramente à de ser correspondido.
Por fim.
Chega.
Riem de sua audácia.
Sentem o peso do ato praticado.
A acolhem.
Mas por pena e reconhecimento à seu esforço que por amor.
Vive mais um tempo.
Nunca mais aceitou ficar sozinha.
Quando saiam, corria atrás dos carros.
Até onde aguentava.
Nisso, bons quilômetros percorria.
Por fim voltava à casa.
Percebera que a moradia era um bem que não abandonavam.
Mesmo sem, antropomórficamente pensar.
Sabia que o valor do imóvel haveria de ser muito maior.
E este nem se dedicava aos deuses como ela o fazia.
Ao contrário.
Seus donos que se dedicavam à casa.
E ainda o negavam de abandoná-la.
Compreendeu, à sua maneira, o amor novamente.
Inmútuo.
Numa dessa voltas, findou-se no asfalto.
Como mancha tambem.
O destino das irmãs, talvez.
Dedicar-se para em fim morrer na rua.
Mas desta vez.
Em frente à casa.
Que ria desta.
De seu esforço em apegar e dedicar-se à humanos.
Humanos que a casa cativara muito mais, sem nada fazer.
Apenas ser.
Algo que o a malhadinha deixava de fazer

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