quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Uns mundos que nos tocam

O Cotidiano nos toca com tantas situações em tão breve tempo que torna-se impensável manter as sensações que nos são provocadas e estimuladas pelo período suficiente para acumularem-se, e, então, serem transformadas em uma arte plena. Eis o valor das relações e o do silêncio. Do que foge ou não do controle. Ou do que assim acredito que é.

A Superficialidade de um abrigo subterrâneo

‎"O ar la fora é frio e o que nos separa é uma mera parede de átomos, que desaceleram....esfriam...até conflitarem com o mundo que crio aqui dentro, quente e pequeno, onde o tempo não é cronológico e o sol nunca pode chegar, mas um calor há de sustentá-lo enquanto meu desejo querer e manter a janela fechada, acreditando e iludindo que toda a imensidão externa está imersa em conforto e calor que meu mundo me dá. Projeções. O que hão de ser as verdades e mentiras senão construções. De átomos ou não."

Breve citação à um texto copiado*

O que haveria de ser do mundo se tudo que um ser produz desaparecesse como o faz a vida deste, como seria se suas composições, suas pinturas, seus poemas e amores, retratados ou contados, sumissem da memória escrita ou mental; se tudo que a vida toca enquanto é, esquecesse-se que outrora fora tocada e tudo que ainda existe também não pudesse lembrar, nem ao menos ser lembrado. O que haveria de ser do homem se tudo que fizesse fosse esquecido!

* = O texto encontra-se nesse blog com o nome de "Copiado por G.H.U.M."

O desejo de lembrar-se do silêncio

Uma memória me disse que a percepção de que se está envelhecendo é quando os sonhos e desejos passam a ter menor importância perante as lembranças e recordações! Até chegar ao ponto em que o maior sonho se torne, apenas, lembrar...

‎...Um sonho retruca que sempre poderemos lembrar dos sonhos que tivemos e, os risos e lágrimas que brotarem em nossa face trarão consigo a emoção de toda uma juventude que tempo algum poderá tirar...Pois pudemos cravar em nossas memórias, em nosso lembrar, a eterna felicidade de um sonhar!...

...Por fim, O Silêncio. Ele bate à porta e traz a mensagem de si. Finaliza em um ato abrupto e as vezes, doloroso ou doce, todo um universo que sonha ou lembra. Como se sua entrega também fosse uma posse, pois basta instalar-se para que nada mais seja...nada mais julgue o que foi ou o que poderia um dia ser. Do projetar o devir ou recordar o que foi, sempre haverá uma dúvida que sustenta-os e só há de acabar com uma certeza...que somente o silêncio trará!

Panegírico ao Santo dos campos de Piratininga

"Na hora que ia, percebi que lhe amava. Sem despedida. Sem aviso. Apenas ia e acreditava que voltaria antes que sentisse que fui. Mas quando te olhei ao longe vi que tu me sentia, por mais distraída que fosse - pois a distração não era um estado, mas parte de ti. Chorei pela felicidade de sentir-nos. E o ir foi doce, não sei se por descobrir que a amava ou então por saber que logo voltaria a ti."

Segundo Panegírico ao Santo dos Campos de Piratininga

Ó cidade caótica, que de sua frieza surge o calor que nos espreme!

À Chuva da Última Madrugada de Agosto

Oh Chuva! Vem iludir-nos em parecer atroz, indomável, insolente. Sei tua essência, senti tua presença quando ainda não estava. Sabia que havia de chegar, mas como é próprio de ti, misterioso o momento há de ser. Só resta-nos esperar. Acreditar que, o que se sente, és tu. E quando vens, demoro-me à saboreá-la. Perco-me, na verdade. No tempo. No deleite. Para então ires. Com todo seu ego e pompa, que meu ser inflou. Há de ser típico de substantivos femininos, mas não se atente, a madrugada chegou!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lembranças de onde nunca se esteve

O que hão de sentir os jovens poetas d'outra era
Pois nem mesmo os de meu presente eu saberia dizer
O que há de residir no espírito jovem daqueles que cantam
Se não sequer suas vozes eu posso ouvir
O que há de alimentar os seus desejos de se expressarem
Se nem ao menos o silêncio possui a ausência que o faz

No ar, há de vivificar um grito mudo de um peito angustiado
Angústia de um tempo que nunca foi
Nunca é.
Senão na idéia do autor.
Idéia que livre nunca foi
Até seu nascer está intricadamente preso às garras do viver.
Garras que rasgam,
debocham,
Sangram!
Da mesma maneira que a corda de um violoncelo que se parte.
O que pressiona não se rompe.
O que se rompe?
O que rompe o silêncio sem ao menos romper o conceito?
O pensamento.
Este surge na forma que lhe foi doutrinado.
Seja em melodia, cores, gostos ou meras letras que fazem algum sentido para si próprio.
Sentido que deixa de existir na sua própria formulação.
O que há de ser o sentido natural das coisas senão uma anacronia?
O pensar surge após este mesmo como um auto-rótulo.
Auto-o-suficiente para acreditar que pode ser pelos outros.
Ser mesmo por aqueles que não são...
Ser principalmente para aqueles...
Não há como angustiar,
Num mundo de experiências,
As memórias daquilo que nunca foi.
Daquilo que nunca é.
Senão nas próprias memórias dele mesmo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Eternizar

O cão caminha e pousa à sombra.
Gira, Gira, Gira.
Pára.
Repousa.
Cansado de fucinhar os lixos.
Os cantos.
Cantos de esperança que findam.
A fome se torna um luxo.
O vento aumenta.
Seu corpo, que a cada segundo diminuta, torna-se seu manto.
Torna-se a sombra da sombra.
No silêncio do nada,surge algo.
Sussurando.
Batucando na atropelada cabecinha.
Eis a degenerada memória.
Atiçada pela voz de uma criança que nada disse.
de uma criança que não está.
Ele levanta-se e procura.
O vento sorri pela peça que prega-lhe, ressonando nos cantos.
Mesmos cantos fucinhados.
O Indigente continua escutando.
O vento se assusta e sai amiúde.
A voz toma forma, movimento e carinho.
Ah! Que carinhos!
Um uivo varou as vizinhanças.
Ofensas e luzes surgem, mas nada afeta o cãoteiro.
Logo lembra-se d'uma criança,
d'um local,
d'outros,
de comida.
Ah! Quanto luxo!
Quanta fome!
O vento espia da esquina.
Outro uivo.
Novas luzes e vozes ecoam.
O vento as traz e foge novamente.
O encolhido lembra-se.
De escolhido deixou de sê-lo.
Se lembra do que foi ou sentiu, percebe que já não é.
Se lembra que já lembrou antes.
Mas esqueceu.
Vai esquecer.
Desespera-se.
Uma luz cruza a esquina.
Agarra-se às memórias e avança.
Um impacto.
Um freio.
Fumaça.
Luzes e faces curiosas surgem semi-nudas.
Mudas.
Demoram à observar mas entendem o ocorrido.
A luz, quebrada, resmunga.
Recebe a preocupação das vozes.
Por fim,
As luzes apagam.
As vozes se calam e vão repousar
Não sem antes agradecer à luz pelo fim dos uivos.
A luz retira-se à resmungar.
O cão.
Ao canto.
Em seu último ser, busca saber o porquê de tudo isso.
Porque não sente.
Porque o resto já não está.
Porque...
...
O vento que veio e agora vai com a luz,
Sorri.
Ri.
Esquece.

A Prostituta e o Professor

Ela chega em casa
Cansada do trabalho
Só pensa em dormir
E esquecer o que passou.

Ele chega em casa
Cansado de tanto trabalhar
Passou, não quer pensar
E dorme pra esquecer.

Sua vida é doação
Mesmo que não queira assim
Só lhe resta é cobrar
Pelo que sabe fazer.

E na hora do lazer
Outra vida quer levar
Ela abandona o prazer
E Ele deixa o ensinar.

Ela pega caneta e livros
Se esforça a aprender
Tem álgebra, química e história
Tenta, tenta até saber.

Ele sai com seus amigos
Que nem tão amigos são
Escolhe a próxima "vítima"
À machucar seu coração.

Ele a leva pra casa
lhe embebeda e faz deitar
Busca na gota de prazer
Sua rotina afugentar. (mas que vida!)

Ela vai pra faculdade
Cara limpa, tem que ver!
Escuta tantas maldades
Por seu destino escrever. (pra que tentar?)

Ela fica cabisbaixa
Pela falta de respeito
logo, distrai-se ca'aula
E seus colegas com seu peito.

Muitos ali já à tiveram
Outros tem regularmente
As meninas a invejam
Porque dão gratuitamente. (mas que burrice!)

Ele levanta da cama
Lambuzado de prazer
Pega um drink na cozinha
Ao lembrar-se do dever.

Ela levanta-se da cama
Pega suas coisas, se arruma
Cobra o valor merecido
Sai silenciosa e muda.

No ofício dele à noite
la está ela sentada
E como ele pediu que o açoite
Ela pediu pra ser ensinada.

Tantas aulas repetidas
Tantos homens repetidos
mesmo querendo o novo
O paladar já está vencido.

Para eles, o dever
Serve para o outro saciar;
Para eles, o prazer
Busca o fim de tanto lamentar.

Ela o paga com o dinheiro
Que a noite ele a pagou;
Ele prostitui a si mesmo
E ela mantêm-se com o que professou.

TNM – 0043 Atualizou seu avatar.

“EXTRA! EXTRA! A felicidade já pode ser comprada em qualquer farmácia perto de você! - dizia a manchete do jornal da manhã nesta tríbali.
Retorno ao dormitório com um sorriso mascarado, talvez até de mim mesmo. Tomo o combinado energético com o tradicional lanche suplementar. Não há um dia em que não fique satisfeito com essa refeição que toma parte do meu custoso salário, mas afinal, como afugentá-lo? Ou melhor, para que? Ainda me sobram o suficiente para as vontades das crianças.
Que falta elas fazem! Por mais que trabalhem há 25 anos, não me acostumo com suas ausências quinzenais. É como se os quisesse aqui todo dia, embora não saiba dizer o motivo e nem o que faria se isso acontecesse. Ah! Algo parecido já aconteceu! Lembro do dia em que meu pai, naqueles tempos em que ele ainda não tinha O Implante, resolveu reunir eu e minha irmã, com nossos respectivos filhos, para “passarmos um dia em família à moda antiga” - dizia ele – e foi estranho, para não dizer que fora ruim, pois ficamos sentados, e não só isso, mas próximos! Próximos à ponto de podermos nos ouvir e ver nitidamente, sem qualquer equipamento tecnológico. Cada um era visto com a roupa que usava na realidade física e cheirava assim mesmo. Sem dúvida o momento mais estranho – e não tenho outra palavra – que posso me lembrar ou minha memória externa pode fazer por mim.
Nós sete; Papai, eu, giovana e seus três filhos e meu pequeno...filho...o john, não tinha a clarissa, roberto, carolus e TXV-042 – que nasceu após a Lei dos Nomes ser implantada, o que pessoalmente achei bom, além de ser facílimo de lembrar, facilita toda documentação e catalogação que as crianças passam no mundo. Soube recentemente que Clarissa vai atualizar seu nome para TXM-0654 (Olha como já muda! Seu nome brilha em minha memória e é delicioso pensar nele. Não sei como fui imprudente à ponto de chamá-la só com letras, colocando vogais e tantas ainda! Felizmente o grande chefe fez a Lei dos Nomes e a tendência que já existia apenas se institucionalizou.
Então, o estranho encontro começou assim, reunidos em acentos antigos que papai guardava em casa – Isso é algo estranho nele. Guardar coisas! Como se o fato de comprá-las desse a ele o poder de possuí-las! Raramente descartar algo e quando o questionei sobre isso ele ficou bravo e falou que no tempo dele a lua era bem maior (porque nossas roupas e moradias são feitas com Kleurípodo, areia lunar) e que é inadmissível o que “eles” fazem com os mortos! Não sei quem são eles e não entendo o problema de tornar os mortos em combustíveis para indústrias, transportes e moradias.
Nos sentamos naqueles objetos. Sim, sentamos! Posição extremamente desconfortável, e não é só porque olhamos as outras pessoas, mas seriam necessários anos de caminhadas para ter os músculos das costas fortalecidos para tal; Foi um esforço enorme. Então ele começou a falar do seu cotidiano, com algumas risadas, alguns lamentos, tudo em forma narrativa e sem sentido. Coisas que nem postava em seu avatar! Deviam ser mentiras ou distorções de uma memória senil, afinal ele insiste em não chipar-se e muito menos à anexar uma memória externa. Mal sabe o prazer de nada ter na cabeça!
Em seguida nos questionou sobre o que tínhamos feito naqueles últimos “dias”! Dias! Foi engraçado. Todos rimos e então ele se corrigiu e perguntou de nossos últimos tríbalis. Os filhos de giovana (hoje em dia é estranho dizer “irmã”, não só devido a Lei do Parentesco, que acabou com toda perpetualidade de relacionamentos unilaterais, em que não há uma vontade mútua de se relacionarem, trazendo a oportunidade de termos tantas famílias quanto quisermos, basta A Instituição validar o contrato feito, sem mencionar as guildas, que seriam famílias temporárias), mas então, os filhos de minha irmã, ao serem questionadas sobre seus tríbalis mais recentes, enviarem ao visualizador que estava presente entre nós, os relatórios operacionais que postavam em seus avatares. Papai desligou o visualizador e pediu que dissessem, com a voz, não com o captador neural.
A fala foi unânime: “O de Sempre”. Dito em uníssono por cordas vocais dsstreinadas e desafinadas, mas com a convicção de mentes aguçadas ao ofício rotineiro.
Papai ainda tentou mas nada mais foi dito. Então, resolveu tornar a reunião mais estranha e constrangedora para nós. Quis retirar o respirador para “sentir o ar como se fazia antigamente”. Tal ousadia incitou tanto os pequenos que antes que chamassem o pelotão da Ordem e Paz, estes já estavam à caminho – desde a Lei de Manutenção da Vida, fora proibido respirar sem o equipamento adequado, pois o ar ambiente é tão nocivo aos pulmões que os humanos teriam vários problemas e sofreriam muito até desfaleceram, sem contar que só podiam se aventurar aqueles com condições econômicas para manter o tratamento dos problemas respiratórios e quem sabe a respiração dos brônquios, afetados pelo ar atmosférico. Papai ousou demais. Eu, giovana e nossos filhos, pela Lei da Genética, Produção e Rendimento, fomos qualificados com pré-disposição à categoria B16, o que não é ruim, mas não podemos nos dar ao luxo de problemas respiratórios.
A guarda chegou, e ao verificar a documentação e um registro da reunião daquele tríbali, feita pelos meninos em seus avatares, acharam que papai estava com depressão e o privilegiaram com O Implante!
Hoje, papai é outra pessoa, vive sempre satisfeito, na moradia do arquipélago verde. Desfez-se de todo o peso de suas antiguidades mas ainda é resoluto com suas memórias, que infelizmente vão se perdendo na degeneração de seu cérebro egoísta, em vez de compartilhá-la no Grande Historiador, o servidor das lembranças armazenadas por todos nós, junto com nossos avatares e que é a base para manutenção da Ordem e da Paz, atributos essenciais para a nossa privilegiada sociedade terrestre! Eu sei, posso não estar sendo original, mas não há quem não se emocione com esse trecho do discurso do Grande Chefe, na ocasião de promulgação da Lei da Sociedade Universal.
Faço um upload dessa lembrança enquanto termina meu suplemento e o energético, para me pré-dispor às boas horas de meu ofício rotineiro, com ele trazer maior progresso tecnológico e tornar o mundo mais justo. Com minha retribuição financeira comprar mais suplementos, para mim e filhos, assim renderemos mais; continuar bancando a dose diária de felicidade de todos nós, isso sem mencionar as induções de água e consumo de oxigênio; afinal ninguém pode fugir disso, faz parte da vida, e A Instituição faz um grande trabalho em purificar o ar e redistribuí-lo com tanta qualidade e segurança.
Além desses meus quatorze pulmões para abastecer, com seus respectivos estômagos, sobra-me o suficiente para o aluguel da moradia de todos e tudo que A Instituição e o grande chefe acharem necessário para a manutenção da vida. Ou melhor, não o que eles acham, mas o que é Necessário!
Que estranho, me corrigi. Cometi um erro de pensamento; Acho que preciso dar um pulo na farmacorp e comprar uns créditos extras de felicidade.
Upload termina.
A refeição acaba.
Uma sirene toca.
Todos saem ordenadamente de “suas” moradias, com suas mentes vazias para mais um turno do ofício neste tríbali.(Não se usa mais dia para designação de tempo pois este termo não faz sentido sem seu antônimo, a noite, já que A Super Cápsula terrestre mantém a atmosfera sempre iluminada, rompendo a antiga dialética da rotação terrestre)
Mente vazia, corpo disposto, ofício em vista; A felicidade, em créditos extras ou não, por fim chega.
Num futuro; Num mundo; Aonde as necessidades são mero luxo daqueles que não têm – ou não querem ter – o saciar de suas vontades.

Copiado por G. H. U. M.

Escrevo porquê tenho que retratar esta realidade antes que até isso se perca.
Não há de ser nenhum mistério para todos, assim acredito, a durabilidade dos seres, e neste excerto vou me ater à um em específico, o Humano.
Também há de estar no senso comum a perpetuação e o esquecimento do passado como memória. E nessa memória reside todas nossas pretensões de futuro. Temos de ser cuidadosos com as recordações e não só perpetuá-las por nós mesmos mas pelos que virão. Emos que pensar que futuro desejamos e perpetuar o passado necessário para isso, assim como nos foi dado as memórias suficientes para assim sermos e desejarmos sê-lo.
Nossa manutenção do passado há de ser fundamental não só ao futuro próximo como à todo o devir, sejam, nossas memórias salvas ou não para além de nossa existência.
Triste pensarmos o que o tempo engoliu e nos tirou o prazer ou o desgosto de saborear. Quantos foram os textos, poemas, pinturas, músicas, idéias que este mundo produziu e viu apagar-se com seus maestros. E quantos ainda serão, mesmo que para além destes tenha durado.
Alguns se salvaram para além do tempo do seu criador, é verdade, mas o que foi senão um vislumbre de um tempo, uma realidade, que não só foram sentidas pelo autor, mas filtradas por seu ser. E o que haveria de ser este senão um condicionado pela memória e as necessidades de seu mundo?
Por trás dos nomes que chegam até nós pelo tempo coletivamente psicológico, há de residir silêncios; muitos mais silêncios que vozes à ouvir ou imaginar. Vozes que são mudas, apenas ecoando pelas bocas de outrem. Outrem que vivem com tais lembranças e decidiu perpetua-las; como foste-lhe importante achou válido dar-lhe a chance de poder ser assim aos que virão.
Mas a vida é muito pouca para manter, sejam as lembranças acumuladas de um passado externo ou de uma vivência própria.
Se nos é dado uma vida para viver, seriam necessárias muitas outras para lembrar e tantas mais para contar; em palavras, em figuras, pinturas, sons.
Ainda mais se temos que nos ater, grande parte desta, a compreender como o externo está e é. Sem mencionar o nosso papel nessas articulações e movimentos todos, sem, é claro, deixarmos de nos mover.
Uma vida não basta. Embora a minha se pareça eterna, pois a consciência desta está atrelada às minhas memórias e elas, por mais que remetam ao que chamam de pouco mais de vinte anos, me parece uma totalidade inefável. E desta forma, creio, – e assim faço real – que será. Eterna. O devir, por mais que me entristeça, machuque, destrua...me apague, serei eterno em minha consciência, que, por fim, me fazem acreditar – e dessa forma torna-se real – morrerá comigo.

Copiado¹ por G. H. U. M.



Notas:
1 – Numa realidade em que tudo que um ser cria, por mais externo que seja, como um livro, um quadro, uma sinfonia; desaparece do mundo com a morte deste. Um mundo que só pode ser preservado se for copiado por outras mãos e então perpetuado junto à vivência do novo amo. Um mundo de idéias, produções e lembranças tão efêmeras que a vida tenta se equilibrar no passado e no futuro; No que deve ser salvo e que se pode dar de novo. Em que tempo, por mais individual que seja percebido, condena à todos a posicionaram-se em relação à ele e a sua própria existência, e claro, à tudo que derivou esta.