sábado, 21 de julho de 2012

The Last

Esperamos que se passe.
Mas não vai.
A tristeza se enraíza e toma a forma do sujeito.
Por que não me deixas?
Por que traz a angústia consigo?
Já fazem tantos meses que chegou e não parece ter data pra ir.
Simplesmente não vai.
Tenta-se o famoso esplendor da convivência e falha-se.
Ela oculta-se entre os sorrisos e basta eles acabarem pra retornar triunfante.
Relutante a ir e mais forte que antes.
O silêncio parece ser uma saída,
mas já os seus prenúncios parecem alimentar ainda mais a tristeza.
Como se desistisse e lhe desse total vitória.
Imagino a dor de largar este mundo social para aventurar-me numa possibilidade.
Como disse, singelos movimentos em direção disto já desespera-me.
Mas algo há de ser feito.
Nem sei o que resta-me a tentar.
Ou melhor, sei, mas não quero pensar.
Não ainda.
Embora uma parte de minha abstração esteja a pensar nela ultimamente,
com um estranho carinho, hei de dizer.
Mas isso ainda assusta-me.
Mas viver me traz a mesma sensação.
Não me reconheço, e essa há de ser uma das poucas partes que sei do eu,
por desistir de uma ideia rapidamente.
E desse modo, o caminhar, por mais doloroso que se torne,
ainda possui forças e fragmentos de sonhos em mim.
Uma parte desespera perante a chance de logo não ter.
E aquele pensamento ampliar-se em mim.
Dominar-me.
Em minha abstração, tão alargada, machucada, ganhas forças.
O método, é claro, não sei, mas já me peguei a pensar nele.
Medo.
Apodera-se de mim ainda este.
Mas o que resta-me?
Um pouco de esperança, eu diria.
De sentir, numa sincera doação, a importância do meu ser em vida.
A importância do que tanto tentei sê-lo e por isso, em parte, tornei-me.
A significância de uma existência que tanto duvida de si.
E que vê no fim uma chance maior de assim o sê-lo.
O mundo realmente não mudaria,
mas não possuo mais tal ambição e nem importa mais.
Mas talvez, e nisso reside uma esperança que ganha força, para a tristeza da outra,
torne-se maravilhosas lembranças, faça-me povoar pensamentos que,
ao menos aparentemente, deixaram-me à um bom tempo e não sei o que farei quando largarem-me totalmente.
Não suporto mais a espera.
O tempo me mata, e não quero que destrua-me nos outros também.
Tem-se que eternizar-se enquanto ainda resto.
Por mais destroçada lembrança que lhes seja, ainda resto como boas.
Tudo podia ser tão mais simples,
mas as pessoas não são.
E eu sou uma delas.
Eduquei-me em esperanças que não existem e não conseguem sê-las.
Deixaram-me uma a uma, e no fim, resta-me duas.
Uma a fortalecer-se e outra a minguar-se.
Quando esta for-se, a primeira, como vitória, vai-se também.
E a mim.
Mas repousará, como esperança, aqui.
E penso que o verdadeiro artista, por amar-lhe a sua cria,
compreende, que a existência dela, agora, independe dele.
E mais bela há de ser, se seu criador não mais sê-lo.
Pois poderá, mais facilmente, habitar o olhar de cada um que a aprecia.
E seu mestre, só um nome.
Viva bem, minha arte, inacabada eu sei, queria poder corrigi-la, consertar onde sei que muitas falhas ficaram, mas assim a vida é, e tu, em breve a possuirá.
Eis a última das esperanças.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Do segredo ao desprezo

‎"Oh severo caminhar, que faz da realidade uma invertida verdade. Trago à ti uma ilusão e pela margem lhe habito, lhe faço tenaz sinceridade no sigilo. O oculto possui mais de mim que a voz que esbraveja, e na certeza do que diz, nada têm de relevante, senão um levante de falácias que me trai. O sorriso, se sincero, lhe dou somente à ti, e das carícias, somente à nós há de luzir. Porque o restante não entenderia, porque o explícito já deixou há muito tempo de me habitar."

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lamentações de uma caneta e uma dança perdida.

O que diferencia o artista do vagabundo.
Interrogação.
O ideário pós-feudal está encrustado nas veias dos homens.
Assim como as veias mercantilistas encrusta o ideário pós-moderno.
Industrialismo.
Metalismo.
Mecenas?
Exarcebados nobres que buscam status.

Braços antigos.
Olhos românticos atrás de velhas armações observam a criação.
Silêncio.
Umidecem-se.
Sorrisos resultam em suas faces.
Aclamações escapam pela boca felicitada,
No mais puro recatamento.
E mais destes aparecem.
Calam sorridentes.
O destinatário desvaneia esquecido.
O paraíso de minhas palavras-vivas distrai-se.
A lembrança de sua reação é esquecida em minha memoria.
Sorrisos imaturamente forçados.
Acostumado à elogios umidecem-se por conveniência.
Há brilho, porém se dissipa ao ser usado.
A vida volta ao normal.
Sem luz, sem graça.
Porém as palavras não param..
Percorrem outros braços e vistas.
Estes sorrisos sonhadores de outras épocas agraciam-se.
Mesmo silenciosos.
Inflo-me.
Vejo que prefiro fazer por estes.
Aqueles olhos que tratam-me como Homem.
Diferente.
Importante.
O sentir-se especial pelo de fora, quando o interno quer acreditar, é sublime.
Em fluxos lembro-me do destinário.
Intristece-me.
Rostos antigos.
Alegram-me.
O objetivatário acredita realmente ser meu mecenas.
Ser ele as palavras.
Sem o que o escritor possua signifcância.
Escrever é o dom do alfabetizado.
Inspirar há de vir de poucas musas.
Hiperbolizo para extinguir a mágoa geral que me consome.


Pseudo-Humildade que acaricia a pele com o estribo.
O que há de ser um artista senão um vagabundo.
Afirmação.
O ócio é um luxo que nem os ricos hão de ter.
Porém o criar exiger o saber.
Os que sabem, acreditam que isto só sirva para se obedecer.
Receber.
O criar por si próprio é apedrejado pela mão que tenta comprá-lo.
Ponto Final.

The Perfect Weather. The Time of two of us.


Num friozinho e chuva como esta,
Queria eu, humildemente estar,
Em nenhum outro lugar,
Com nenhum outro alguém,
Senão deitadinho, abraçado contigo.
Te ouvindo dizer.
Te sentindo em mim.
Te queirando tocar para o mundo nunca mais existir,
E só restarmos eu e ti,
Deitados ali,
Com carinhos ao ar.
E o silêncio que pousasse,
Trazia consigo a paz de tua ternura,
Como o vento traz a chuva,
Que repousa em ruídos.
Desses tão quietos,
tão sentidos.
Como o vazio que pode brotar por entre as vozes,
e nem assim lhe impede o ouvido,
de perceber todo o encanto de um momento a dois.
E o olhares que se tocassem,
teriam todo aroma que a brisa traz.
A umidade da vida se aquece nos teus braços,
que repousando sobre mim,
acariciam,
são acariciados.
Como o todo o jogo de membros que o corpo conduz,
debruçados sob a égide de um cobertor,
que só faz por sentir-me mais perto a ti.
Até o momento em que nada se defina,
não entenda mais onde sou e onde és,
se minha voz provoca a ausência do som
e o calar tamanha ruidosidade.
Se sou a chuva,
Se sou o vento,
Se sou o tempo lá fora ou aqui dentro.
Se tudo é real e se vai durar,
No fim, nada disso importa,
Só me atém o único anseio de,
num dia como esse,
sob uma chuva e tal vento,
queria estar consigo,
em abraços,
deitado,
te olhando.

Sendo-lhe em carícias.
Seu.
Todo seu.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um zíper, uma aceitação, um triste real


Levanto-me e pego a case.
Embalo o violoncelo com a obstinação de quem vai.
De quem sabe tudo finalmente.
O zíper sobe e desce pra se cruzar e cela-lo.
Esse movimento é realizado com a maestria de quem sabe.
De quem sabe o que deve fazer.
Embala-se com a lucidez de uma predestinação sua.
O ênfase é tamanho que deveras prazer se sente em fazê-lo.
Não deseja-se que o zíper se finde nunca.
O espírito audaz finalmente encontrou-se em si.
Num movimento ordenatório cabe tanto sentimento de si.
"A vida é grandemente não questionada como se é dada e a morte intensamente aguardada como inevitável. Pena que a vida não é."
Saudades de tudo aquilo que podia ter sido,
mas não foi para dar uma pseudo margem de futuro,
uma pseudo segurança da vida que gosto algum haveria de trazer.
Livrar-se do passado e do seguro não dói tanto quando se imagina doer,
não de uma vez, mas o sofrimento perdurará longos tempos.
A felicidade também.
Qual o tamanho do velho que não impede o novo?
Tais certezas entristecem tudo.
A única que pode haver é a do cello celado.
Agraciadamente guardado numa epifania de seu maestro.
Nada há o que dizer senão aquele sentimento.
Da certeza de ir, mesmo sem na real saber para onde,
embora aquele espírito saiba e entenda o modo como chegar.
Tenho que segui-lo.
Não há tempo pra ficar.
O zíper fechou.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Méishíme shí, wo shí - Nihil est, solus sum

Reside no oriente.
Pouca dúvida resta.
Tenta-se,
Torce-se,
Retrai-se,
Foge-se.
Mas cai justamente d'onde saíra.
Educa-se o homem à algo e a isto sempre será.
Será?
Não sei.
Não faz parte do jogo saber.
Afirmar-se talvez.
Sobre o que viveu-se ou vive-se.
Como hei de negar a mais forte, doce e velha lembrança d'um eu.
Algo que permeia as mais vastas esferas do eu d'hoje.
Sementes ocultas flagelam o amanhã.
Repousa no manto do velho as lágrimas d'uma vida feita.
Reside no coração dele os anseios do que fora,
mas principalmente do que não o fez.
De quem perdeu e da impossibilidade d'algo.
Pobre homem do oeste.
Criou-se para o oriente e no fim
Nunca foi daqui.
Nunca foi de lá.
Lamenta como um desgarrido de si mesmo.
Um anacrônico em si próprio.
Desenraizou-se para buscar raízes que o confortassem.
Nunca existiram, senão na mente que assim achava.
Foi-se feliz em si.
Só em si.
Bastava uma brisa do mundo tocar-lhe para perder-se.
Despertenceu de tudo que há para justamente sentir-se integrado.
O quanto fizeste?
O quanto valeste?
Só recordam-se os mantos, os vales e as flores.
Enfim descansa o velho monge.
Nunca o foi.
Nunca ansiou verdadeiramente sê-lo.
Mas o fora mais do que muitos que o são.
A liturgia lhe fugia aos dedos e às palavras.
Mas seu espírito, em seu ínfimo, nunca deixou de sê-lo.
O fora exatamente para não lhe obrigarem a ser.
Só queria a paz d'uma vida onde pudesse ser por si.
Mesmo não acreditando mais no eu de forma pura,
Sentia existir como uma intersecção dos mundos.
Já se cansara o velho espírito deste e daqueles.
O silêncio de si era o mais doce som que sua vida podia soprar.
A brisa que acalenta as manhãs e o sol que traz a nova chance.
Aquele que deixa para ter.
Tristes são as situações da vida humana que faz da exclusão o melhor meio para integrar-se.
Mas no fim,
Retorna ao que lhe parecia seguro.
Um passado onde o todo não lhe feria.
Ele era o todo.
E lembra-se que acreditava ainda que seu coração pertencia ao oriente.
O mais distante de tudo aquilo que vivia.
O mais distante de tudo aquilo que podia conhecer.
Um retorno, uma fuga, diretamente pra si mesmo.
Para um lugar de onde nunca fora,
De um lugar para onde acreditava ser.
Nunca foi.
Apenas era.
没什么是,
我是

sábado, 7 de julho de 2012

Ianuus enim apertus erat

Sabado a tarde.
Ele adentra às espessas portas e encontra-se perdido perante a vastidão que o inunda; choca.
Caminha no vão central que se abre à sua frente.
A multidão o olha com olhos de repulsa; de rejeição.
Sorte estar acostumado a isso e até achar carinho nesse modo de ser olhado, afinal o tempo o fez perceber que mesmo na repulsa havia o carinho de um olhar.
Continuava adentrando sorrateiramente, em passos mansos e vagarosos.
Olhares curiosos o permeavam e sorrisos, quando não pequenos risos, juvenis o engrandeciam e quase o enchiam do tamanho deste lugar, restando-lhe frestas entre toda sua pompa e as colunas que o cercam.
A curiosidade e o espanto debatiam-se em seu ser, que não mais controlava seus pequenos olhos, famintos pelo mundo que se abria para ele e, aqueles que tanto o notavam restava-lhes um repouso esquecido em seu relance.
Talvez as crianças menos.
Gostava do jeito que os pequenos olhos - assim como os seus - o enxergavam.
Mesmo notando que já era visto por todos e abominado por muitos.
Mas sabia, ou ao menos sentia, que todos esses eram deveras pequenos perante aquele local, aquele teto, aquelas crianças.
Não tinha mais como não notá-las.
Ou mesmo adorá-las.
Tornaram-se seus escudeiros neste lugar onde os olhares maiores o dizia profanar.
Continuava andando e avançando. Contornando aquelas pernas, olhos e sorrisos. Por maiores que fossem suas curvas e contornos não conseguia escapar aos olhares.
Chegava ao meio e não podia mais ignorar a atenção que despertara.
Surgia-lhe uma insegurança de estar ali.
Sabia que os bochichos despontavam aos lados e atrás dele, mas prosseguia.
Entendia que voltar seria inútil uma vez que de lá seria banido mesmo, e daí só lhe restaria voltar, por mais forçado que fosse para tal.
Sendo assim, que ele adentrasse ao mais fundo possível para que na fuga tivesse mais tempo de rever todos aqueles detalhes.
"Como os homens podem fazer coisas que até um cão fica tão chocado?
Como poderiam olhos grandes criarem tamanhas coisas que só fariam por fazê-los sentirem-se tão pequenos, mas que mesmo assim, olham-me tão severamente engrandecidos?
E os pequenos?
Estes que surgem-me tão inocentemente aumentados aqui ao ponto de preencherem toda a vastidão deste local; tomam a atenção dos vitrais, das colunas, pilastras, estátuas e das belíssimas pinturas que adornam partes que, mesmo olhos acostumados, não o percebem; olhares pequenos que, como o meu, se conectam a imensidão do desconhecido e do inacreditável, justamente por não terem sido adestrados na arte "consciente" de ver; olhos pequeninos que preenchem até mesmo a vida esvaziada dos grandes olhares."
Chega por fim a frente da catedral e percebe-se de fronte as principais formas do ambiente.
Percebe isso pela condição física e decorativa de todo o resto.
Conduz seus olhinhos para o grande foco deste lugar e se depara com um homem.
Frustrado, espera ser tocado para fora mais isso não acontece. Todos olham-no agora. Até o regente. Ele se tornou o centro dos olhares. Embora decepcionado, com uma pequena satisfação por este feito, vira o rabo e volta-se triunfante para a porta. Um retorno rápido, ao menos para sua percepção assim o fora, agora tão desapontado com o próprio ato de olhar. Não ve o tempo passar e já encontra-se do lado de fora. Todos deram-lhe passagem e mesmo sem ter olhado para dentro, sabia que olhares ainda o seguiam. E que outros ainda o ficaram olhando-o sumir de vista, e até mais. Uns o invejavam, outros o esperavam voltar, pois os que o repudiavam já deixaram de olhar a muito tempo e atinham-se agora a resmungões.
Mas tinham ainda uns poucos que ficaram intrigados e tamanha foram as indagações que também sairam, e juntando-se à outros cães, tornaram seus próprios olhos também pequenos.

Nihil ut est, Ego ita uolo non esse.


O dia perde a suspense e o mistério da madrugada.
A criança perdeu-se ao querer desbrava-la e já não são.
O pernoitar virou uma prática e a pueril tornou-se recordação.
Grande parte do valor estava justamente em não poder.
Em aspirar um dia conseguir e quando o faz, a assassina no segundo copo de champagne.
Não, não posso ficar.
Deixe-me ir.
Aqui mais me fere do que acalenta.
Está marcada de lembranças que me ferem por passado serem.
Ah, como a amei.
Como fiz de minha vida uma sacerdotisa sua.
Deu-me tanto.
Fez-me assim.
E agora tornam-mo-nos tão hostis.
Não, realmente não posso aturar sua existência.
Deixe-me dormir,
Pois o tempo me machuca menos lá.
Pode ser que o sonhar me insurdeça lembrando-ti
E ainda me fazer acordar, como agora, em seu maior glamour.
Pode ser, pode ser.
Mas o pouco que me resta vale a chance de arriscar-lhe.
Quem sabe o descuido lhe acometa e me desperte quando tu não mais fores.
Quem sabe uma sorte me toque e o despertar se dê quando eu assim não o for.
Quem sabe,
eu,
não desperte,
E você,
fique pra sempre perdida,
ou então,
apenas isso lhe peço,
que seu se perder,
não seja-me um eterno sonhar,
e me amaldiçoe no sono sem fim de ti.
Este seu quase-tocar arranca-me a alma e o seu fim não há de tão sofrível ser se,
ao menos nele,
dar-me o silêncio do tempo e tirar-me,
d'uma vez por todas,
o som teu que tanto ecoa em mim.
Que tanto faz ferir esse madrugar inusitado.
Que não mais carrega o enigma infantil,
nem a doçura do teu olhar.
Joga-me nu perante eu mesmo e triste é ver as rugas em tal jovialidade.
Rugas do tempo.
Rugas do vento.
Rugas da vida que tanto lamento.
Triste é ter as mãos fadadas ao tocar-lhe as lembranças
e fazer, a contragosto, um presente que não passa.
Nem vive,
Nem morre,
Apenas é numa insonia constante.
Que até já existe fora do ser.
Independe-o.
Mas sua prodigalidade volta para ter com o pai.
Retorna para, num deboche, mostrar-se tal como sempre o impediu de se-lo.
Surge apenas para dizer que a madrugada não mais tem sabor.
E que lhe fada a sentir-lhe o gosto - ou desgosto - dela,
da impossibilidade,
e do pior de todos os sabores insonsens,
o gosto de si.