quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um zíper, uma aceitação, um triste real


Levanto-me e pego a case.
Embalo o violoncelo com a obstinação de quem vai.
De quem sabe tudo finalmente.
O zíper sobe e desce pra se cruzar e cela-lo.
Esse movimento é realizado com a maestria de quem sabe.
De quem sabe o que deve fazer.
Embala-se com a lucidez de uma predestinação sua.
O ênfase é tamanho que deveras prazer se sente em fazê-lo.
Não deseja-se que o zíper se finde nunca.
O espírito audaz finalmente encontrou-se em si.
Num movimento ordenatório cabe tanto sentimento de si.
"A vida é grandemente não questionada como se é dada e a morte intensamente aguardada como inevitável. Pena que a vida não é."
Saudades de tudo aquilo que podia ter sido,
mas não foi para dar uma pseudo margem de futuro,
uma pseudo segurança da vida que gosto algum haveria de trazer.
Livrar-se do passado e do seguro não dói tanto quando se imagina doer,
não de uma vez, mas o sofrimento perdurará longos tempos.
A felicidade também.
Qual o tamanho do velho que não impede o novo?
Tais certezas entristecem tudo.
A única que pode haver é a do cello celado.
Agraciadamente guardado numa epifania de seu maestro.
Nada há o que dizer senão aquele sentimento.
Da certeza de ir, mesmo sem na real saber para onde,
embora aquele espírito saiba e entenda o modo como chegar.
Tenho que segui-lo.
Não há tempo pra ficar.
O zíper fechou.

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