sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Untitled

Não tenho mais gosto por ler.
Quem o tinha era ela.
Ao menos, me dizia
Não tenho mais gosto de nada.
O sabor que preenchia era o dela.
Ou então era o que cria.
Nada então me resta.
A última pétala já se foi,
A estrelinha se partiu,
e aquela nau empoeirou-se.
Restam-me os hábitos,
que tanto dela me chegaram,
e agora inócuos,
desprovidos do sentido que lhes fez.
Uma rotina instaurada naqueles sonhos,
daqueles olhos qu'um dia já me fez chorar.
E sempre fazem ao me recordar,
de todo amor que olhavam.
Invadia-me até o princípio do ser e me refez.
Dessa forma grotesca que me findo,
restam as cascas de la belle èpoque.
Onde fundou-se a estrutura do eu.
Desse eu, que já era sem o ser.
Não me resta nele o fugir,
pois o que sou senão muito dela.
De relance vejo seus olhos quando me olho ao espelho.
Minha vida, cotidiano e amigos, o que são senão os dela?
Mesmo os encantos que me surgem.
E os acasos que me guiam,
Carregam-na comigo.
Eu sou ela.
Meu sujeito, minha existência,
é um microcosmo seu.
Seus cabelos, seus escritos, presentes, bebidas e descartes.
Tudo preenche-se dela de tal forma
à dar-me um templo.
Resido nele e ela em mim.
Tolice resta àqueles que,
acreditam poder esquecer, apagar,
romper com pessoas, já que o afastar lhe gera a ilusão disso.
Mas não se depreende o que se tornou,
o que se faz e o que agora se é.
Se é o outro.
Se é a todos que lhe permite tocar a vida e o tempo,
que é a matéria da existência.
Somo-lhos.
E eu, com a máscara na mão após o baile terminar,
a recoloco na esperança de novas festas inspirar.

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