domingo, 11 de novembro de 2012

A Anátema senil-certeira e a Clara jovialidade do ser

O velho está.
A menina chega.
Com algo em suas pequeninas mãos.
Algo foge às minúcias dos dedos.
Oculta ao seu peito.
O velho observa.
Aproxima-se.
Ela olha-o com olhos juvenis.
Enxerga-no com sonhos.
Vê-no com suas canduras.
E ele com a catarata de desilusões;
com a míope descrença;
e com a esperança astigmata.
Isso são iguais no encontro dos olhares.
sem a devida adjetivação do senil.
Embora lacrimejem,
seus olhos se atêm aos do outro por atemporal período.
Os dele se sentem pueris,
os dela, ele crê, se enrugam.
Ele não quer e pisca.
Ela se assusta.
Pende pra trás.
O pince-nez dele retoma os olhos dela.
Se encantam novamente.
Os dois.
Tudo reacontece.
tudo.
e de novo.
Por tal exercício,
o olhar dela se enruga.
O dele enfraquece o grau da lente.
Finda por inundar-se na catarata,
que até escorre dos olhos dela.
E como escorre.
O velho de lente podres,
pobres olhos tem.
Restos da vista de algum hipermétrope,
de outro deficiente visual que o mundo teve.
Passivou-se na acomodação visual do passado,
e perpetuou seu ato de cegar-se.
Jaz só.
Como sempre houve de estar.
Como sempre negou aceitar.
E além do breu que ocupa-lhe o agora ver.
Traz ao léu,
como àqueles juvenis olhos um véu,
de tristezas mil aos outrora pueris;
cheios agora de uma amargura vil,
como jamais quis ter.
como jamais se viu.
Mal teve tempo para olhar em sua mão,
que dentre os dedos aparecia,
embora ao peito ela espremia,
ainda se via a aparência com razão,
uma vez que não se pode esconder,
apenas se o observador não se deter,
que a jovem trazia à mão seu coração.
E um mero olhar,
esgueio que fosse,
traria à senilidade uma nova vida a viver.
Dos sonhos que os olhos dela só uma parte se fazia ver.
Do mundo que ele se esqueceu e,
se esqueceu disso também.
Das maiores belezas que há,
e que seus olhos apenas trará,
uma parte do sonhar,
que olhos de um cego nunca poderão ver,
se ao coração o olhar não se prender.
E a vida então virá,
como quem se vive sem querer.
E as belezas deste mundo se terá,
como quem nem quer saber.


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