Palavras só servem pra
sistematizar o que já existe em si.
Já eras-me avó antes
que eu compreendesse os sons;
antes das letras e dos
silêncios entre elas.
Já era neto antes da
primeira luz tocar-me a vida;
antes do primeiro toque
me acarinhar.
Já existíamos um para
o outro sem que os dois soubessem simultaneamente.
Tardei a entender.
Tardei como tarde quem
nasce;
como quem não
enquadrou os sentidos em formas.
Formas que não suprem
a grandeza das coisas,
mas as habilita para o
mundo dos homens;
as coordena ao
desenvolver-se destes seres.
Conduz ao tal
compreender.
Compreendo.
O universo que tocou-me
desde antes de entender o sentir,
não é mais.
Nada disto será mais.
Eis a lógica dos
seres.
De todos eles.
Persistirem.
Continuarem.
A revés de todo embate
que lhes aflinge;
de toda física que os
toca,
e retoca,
e os encaminha para o
fim.
Morre o ser que não
mais pertence a nada.
O desenraizado;
desprotegido;
desacreditado.
A verdade se constrói
na incompreensão juvenil,
e desenrola-se na
desilusão senil.
A senilidade inicia-se
com a jovialidade,
que só definha,
e definha.
E leva consigo o certo;
o certeiro;
as certezas.
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