quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Maria

Maria era uma boa menina.
Sempre foi uma boa menina.
Daquelas que sempre obedeciam.
Sempre obedecia.
Maria era uma boa menina.
Maria sempre fazia o que mandavam.
Sempre mandavam Maria fazer coisas.
Maria sempre obedecia.
Maria era uma boa menina.
Ensinaram Maria que se tem que ser boa.
Maria obedeceu e se tornou boa.
Maria se tornou uma boa menina.
Ensinaram a Maria que ela devia fazer coisas.
Maria passou a fazer coisas.
As coisas faziam a Maria.
Ensinaram que Maria teria que estudar.
Maria obedecia.
Sempre Maria obedecia.
Maria pode não entender o porquê,
pois não ensinaram isso a Maria,
mas ela obedecia.
Mas como obedecia.
Maria sempre obedecia.
Ensinaram Maria a aprender.
E Maria passou a aprender as coisas.
Outros mais então passaram a ensinar Maria.
Mas não qualquer um.
Ensinaram antes de tudo que só alguns ensinam.
E Maria aprendeu que só com alguns aprenderia.
Maria era excelente em aprender as coisas.
Outros então passaram a ensinar Maria.
Maria os obedecia brilhantemente.
Todos que ensinavam passaram a admirar Maria.
Maria aprendeu que devia ficar feliz com isso.
Maria ficou feliz com isso.
Todos que ensinavam ficavam felizes com a felicidade de Maria.
Maria aprendeu a ser tímida com isso.
Ensinaram Maria que era errado querer.
Maria aprendeu mais isso também.
Não queria nada essa Maria.
Ensinaram que era importante continuar aprendendo.
Maria aprendeu e continuou aprendendo.
Não sabia o que, mas continuou.
Maria era uma boa menina.
Maria sempre obedecia.
Explicaram para Maria que para continuar os estudos teria que estudar mais ainda.
Maria estudou mais ainda para continuar os estudos.
Explicaram para Maria que aquilo era muito importante.
Maria entendeu que aquilo era muito importante.
Maria obedeceu porque Maria era uma boa menina.
Explicaram para Maria que tinha uma prova para continuar estudando e que ela teria que ir muito bem nela.
Maria entendeu que tinha uma boa e que teria que ir muito bem nela.
Assustaram Maria que a prova era difícil e que poucos vão bem.
Maria ficou assustada que a prova era difícil e que poucos passavam.
Assustaram Maria que talvez ela pudesse não ser boa para passar.
Maria se assustou que poderia não ser boa para passar.
Mas Maria era uma boa menina.
Mas assustaram Maria que ela poderia não ser boa para passar.
Mas Maria era uma boa menina.
Mas assustaram Maria que ela poderia não ser boa para passar.
Mas assustaram Maria.
Consolaram Maria que isso era normal.
Maria se consolou que isso era normal.
Consolaram Maria que adolescência é assim.
Maria se consolou que adolescência é assim.
Reanimaram Maria que ela era jovem e podia ainda estudar para ser boa pra prova.
Maria se reanimou para ser boa pra prova.
Maria era jovem.
Sustentaram à Maria que ela tinha que continuar tentando.
Maria continuou tentando.
Maria sempre obedecia.
Maria era uma boa menina.
Mas Maria não passou na prova que só quem era bom passava.
Falaram para Maria que tinha de se dedicar.
Maria se dedicou.
Leram à Maria que ela passou.
E falaram que aquilo era bom.
Maria passou e sabia que aquilo era bom.
Maria continuou estudando.
Outros foram ensinando Maria que haviam coisas importantes.
Maria foi aprendendo que haviam coisas importantes.
E foram ensinando Maria.
E Maria foi aprendendo.
Então falaram que Maria teria que trabalhar.
E Maria trabalhou.
Então falaram que Maria teria que fazer algumas horas extras.
E Maria fez.
Então o patrão de Maria falou que precisava falar com ela.
E Maria falou com ele.
E que precisava ser em outro lugar.
E Maria foi a outro lugar.
E que ela era bonita.
E Maria era bonita.
E que aquilo era normal e o que ela deveria fazer.
E Maria fez.
E que deveria fazer sempre que ele quisesse.
E Maria fez sempre que ele quis.
E que Maria iria crescer.
E Maria crescia.
Amigos e Familiares achavam que isso era ótimo.
E Maria achava que isso era ótimo.
Diziam que ela deveria estar muito feliz.
Maria estava muito feliz.
Falaram que Maria iria longe.
E Maria foi longe.
Um dia Maria não atendia mais as demandas da Empresa e Maria tinha que sair.
Maria saiu porque não atendia mais as demandas da Empresa.
Prometeram muito a Maria.
Maria tinha acreditado.
Mas de repente Maria tinha que entender que não era mais possível.
Maria entendeu que não era mais possível.
Maria era uma boa menina.
O tempo passou e levou Maria com ele.
Sempre disseram que o tempo passa.
E Maria sabia que o tempo passava.
E após ciclos e ciclos de repetição de tudo isso,
disseram que o cansaço existe.
E Maria estava cansada.
Por último ensinaram que Maria tinha que ensinar tudo isso.
E Maria passou a ensinar tudo isso.
Pois a vida é assim.
E Maria sabia que a vida era assim.
Maria sempre soube.
Maria sempre haveria de saber.
Afinal, Maria sempre obedecia.
Maria sempre foi uma boa menina.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A doçura

Ah, a doçura.
Como se pode ter algo além da doçura?
Não se pode.
Tudo que há doçura é.
Ou então a sua falta.
Como aquelas amarguras que nos tangem.
Mas como só tangem, tudo bem.
Ser amargo seria pior.
Deveras pior.
Imagine acordar sendo um peso fazê-lo.
E mais ainda, não ansiar o retorno ao sono.
Mais nada.
Nada melhor se quererá, porque a amargura não deixa saber-se.
A amargura não deixa nada.
Nada para si.
Nada para os outros.
Ninguém.
Um absolutamente nada.
Ah, a doçura.
Como somente ao seu toque sabe-se o valor que tem.
A doçura daqueles olhos.
A doçura daquele sorriso.
Acima de tudo,

a doçura da doçura.