segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Será qu'Elfos voam?

Leve.
Brisa que floresce.
Leva a mente e entontece.
De ternura,
De belezas.
Flutua aos céus e aos olhos meus,
resolutos,
dispersos,
fixar-se-ão na pena que levita.
Pena que levita,
Pena que flutua.
Inalcançável tudo é,
Mas a doçura que a brisa sustain,
levemente movimenta-se e
para além do eu querer tocar-lhe,
ser-lhe no terno mover-se,
livre e belo,
sei que assim independe da brisa,
independe do sopro que lhe tange ao alto,
a pena flutua por si,
e me pego aqui,
singelo assim,
como sempre,
a admirá-la.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Observar o olhar que observa

Da inesperável tarde domingueira,
o que pode brotar?
Na terra da garoa nada se deve esperar,
porque por muito além do que se pensa,
o inesperado virá.
Virá.
E não fora diferente.
O que se pode dizer senão,
do evento ocasional,
que quase nem fui,
tocar-me-ia olhos tão assim.
Mas isso não importa.
Não, já disse que não.
O essencial é tocar ao mundo.
Isso que foi a chave.
Como tais, olhos aqueles,
observavam o obliável das existências da cidade.
Os detalhes esporádicos ou não,
os resquícios dos que passaram,
e mais ainda,
a memória esquecida de quem tentou eternizar,
mesmo que pouco,
mesmo que um fragmento de si...
Tudo,
absolutamente tudo isso tinha espaço naquele olhar.
Sim, olhar e não olhos,
como se verbalizar a substantivação destes.
Como se não fosse possível,
e ainda muito pouco é,
de se compreender que as belezas do mundo,
para além da objetivação dita,
não reside nele,
mas sim,
e fundamentalmente sim,
na bela arte de olhar.
E maior beleza há,
que se lembrar pela observação d'outros olhos,
o quão lindo há de ser,
singela e unicamente,
olhar?
Difícil,
devo dizer,
que não há como,
e isso de praxe ao homem-ser é,
esquecer-se de tudo isso que disse,
e por fim ter,
o observado,
seja o mundo,
sejam aqueles olhos que o observam,
como detentores das maiores belezas em si.

Uma despedida

A rodoviária é um dos lugares mais ricos.
Tanta gente.
Tanta cor e cheiro.
As vozes, sussurrando, se misturam num buchicho rouco
serpenteando pelos informes de saídas.
E como sempre algo atraiu minha atenção.
Normalmente coisas ou conversas efêmeras.
Dirigidas à mim ou à outrem.
Dessas que acontecem até em pontos de ônibus.
Mas nesse dia não.
Diante da porta de embarque defronte a minha;
que de praxe, a número 30, no lado par do longo corredor de espera,
puder eu ver um jovem casal num contínuo abraço.
Não desses que se dá ao encontrar alguém,
mas esses que se reluta a findar por justamente não querer separar-se jamais.
De meu assento podia ver o rosto em barba e com sorriso triste permeado por palavras ditas ao ouvido alheio.
Ambos portavam mochilas imensas às costas, claramente cheia de histórias.
Histórias que pareciam separar-se em breve.
A duração da ruptura jamais saberei,
porém sabia que em meio as conversas confidenciadas seus rostos se afastavam e ele segurava o dela entre suas mão, e após se entreolharem, rápida mas belamente, como que surrupiando ao tempo sua velocidade, pudera ver seus olhos trepidarem ao alternar dentre ver um ou outro dos olhos da jovem, para então suas faces aproximarem-se e nesta, seus olhos, descerem aos lábios daquela e assim fecharem-se num longo e profundo beijo.
Não tardavam em, rindo, tornarem ao abraço.
As mãos acariciavam as costas quando não subiam à nuca e cabeleira d'outro.
As confidencias eram mil e diante d'olhos tantos que, o tempo, e os outros, não existiam.
Olhos passageiros que vagueavam pelo vão central em busca de seus portões não se atinham à eles por mais do que a qualquer outro.
Os olhos dele, que me eram acessíveis, nunca viam os meus.
Nunca viam nada além de seus próprias memórias ditas aos ouvidos dela.
Os sentados ao meu lado, como que se as cadeiras tivessem sido arranjadas prontamente à vermos tal espetáculo, não os viam.
Não além do que os transeuntes viam.
Poderia me ater a descrevê-los.
À todos.
Mas pouco de vossos corpos interessava.
Os que estavam realmente presentes eram poucos.
Entretidos em seus sons, pensamentos ou outros mundos,
virtuais ou neurais, não importa, mas não estavam.
Ao casal, bom, o que os unia, evidentemente,
era pr'além de seus corpos.
Ao menos expressavam-se assim.
Na infinitude de seus abraços,
um ônibus chegou.
Tudo que ja descrevi se acentuou.
Tudo diante da possibilidade de se assentar.
A força do toque,
do beijo,
a frequência de sua alternância...
A separação foi uma tragédia em si.
Os abraços romperam.
Os corpos se afastaram.
Se olharam.
Se aproximaram novamente.
Se beijaram longa e lacrimejantemente.
Agora ela tocava-lhe o rosto e após o informe de saída do ônibus em momentos,
relutou em soltar-lhe.
Ele também relutava.
Após afastarem os lábios,
foram se alongando até restarem apenas as pontas dos dedos unidos em braços estendidos.
Os olhos não se rompiam.
Ele se virava mas os olhos jamais se enviesaram.
Entregou a passagem.
Despachou a mochila no bagageiro e como último à entrar,
ainda olhando-na,
voltou-se para ela e correu em sua direção.
Seus braços se abriram e
ela saltou ao abraçá-lo e
desatar-lhe um imenso beijo dentre prantos.
Ele a segurava dentre os braços e da mesma forma que correu à ela,
dela se foi...
e subiu à seu assento.
Ela cruzava seus braços como que a sentir ainda o abraço amado.
Forçava-se a não piscar.
Não queria, ao menos,
perdê-lo de vista.
Não tardou em perder.
Voltou a si.
Seu rosto enrijeceu-se na típica indiferença Paulistana.
E no caminhar singelo, rápido e ignorável,
dispersou-se na imensidão de corpos e cores que
vivificam a rodoviária.
Insisti em não perdê-la de vista.
Forcei-me a não piscar.
Mas a visão de meu assento era breve.
Não tardei em perdê-la.
Porém, como que,
na frieza do desconhecido com que se partilha grande parte do cotidiano nesta cidade inacessível,
parte de mim,
agora,
ja não era.
Fora,
naquelas mochilas imensas de memória,
lamentavelmente em afastamento,
mas unidas pelos olhos da lembrança que não cessa,
e que como os simples olhos meus,
tragificaram-se na triste separação
do eu que fica e do eu que vai.
Não tardou em meu ônibus chegar.
Parte de mim levantou-se e se foi.
Parte de mim ficou,
triste,
a esperar que não tarde em voltar.
Vi-me distanciar-me duplamente.
Insistia em ver-me até não mais poder.
Até não tardar ao perder-me de vista.
Como à rodoviária.
Como ao ônibus.
E não tardei em perder-me.

Escritos Febris

A chuva é forte lá fora.
Não importa.
Nunca importou.
Quero saber do meu cuido.
Cade?
Onde está?
Não aquele que me vem.
Não ele.
Mas aquele que quero manifestar.
A chuva não se importa.
Nunca se importou.
Nem mesmo com a similitude daquela que brotas de mim.
Daquela que me transtorna e fere,
porém que se reprime por não ter donde cair.
Essa chuva cai em mim mas e a minha, onde cairá?
Claramente nestes escritos diria eu.
Mas da chuva posso eu me abrigar,
já escritos meus não cabem mais a mim suportar.
De infelicidades mil és de brotar,
porém se ela não voltar,
não sei o quanto há de ser até me inundar.
Voltar para a luz dos olhos meus e
nestes um sol despertar,
que para além destes céus,
para além deste mar,
só caberá, enfim,
à olhos meus,
reluzir em te amar.