sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Na ausência de dois olhares

Inveja.
Como não ter?
Por que haveria de ser ruim tê-la?
Não tê-la.
Tê-la.
Tenho-na.
...muito.
Me tortura,
me afaga.
Traz-me à ilusão de realidades.
Recriações em hipóteses.
À Indagações.
Suposições.
Possibilidades.
A maioria delas me machuca.
Me agride.
Destroça os meus anseios.
Como poderia assim não ser?
Como eu poderia...
Não sei.
Não consigo ignorá-la.
A memória,
O pensar,
Você.
Consome minha vivência pois é parte de mim.
Uma linda parte.
Me pergunto onde está,
Se está rindo.
Ah, se está rindo...
Posso ouvir o gargalhar que sufoca-me.
Condensa meu peito em espasmos cardíacos.
Que tentam, tentam, tentam, tentam...

Invejo.
Não você.
Nunca você.
Mas todos os demais.
Todos que podem lhe ter em vista agora.
Que podem admirá-la, feliz ou triste, em ser você mesma.
Eu a admiro,
Sempre que eu quero.
Estou sempre a admirá-la.
Em meus pensamentos.
Fracos,
Escassos,
finitos.
Se, não é em lembranças,
Você é a mim.
Minhas idéias, vontades e ações.
No limiar do meu limitado pensamento.
Na imaginação.
Crio-na doutra forma para experimentar a experiência de tê-la novamente.
Ter novas memórias.
As antigas se deterioram por tanto serem relembradas.
Sempre lamentei não poder guardar cada detalhe de seu rosto.
E nisso meu admirar também falha.
Volto a invejar.
Seja quem for, contanto que esteja por perto de ti.
Quem sabe lhe tocar,
Lhe fazer rir.
Te abraçar.
Meus abraços.
Quem sabe até lhe beijar.
De despedida ou de chegada.
Ou daqueles que surgem no meio da conversa interrompendo sua fala,
ou a dele,
ou a dela.
E eis a loucura aflorar em mim.
E toda a fantasia minguar.
...
E eu aqui, a recriar até isso.
Não há posse sobre ti,
e o invejar é tão doce.
Pois tudo que ele me remete é sua imagem.
Sua presença, mesmo que fruto de minha insanidade, me conforta.
Me confronta sobre o devir,
e me faz pensar: Quando deixarei de invejar?
...
No dia seguinte,
caminho à amaldiçoar.
Todos!
Todos que eu vejo dá-me raiva.
Pois sei que um desses,
Esta noite,
pode ter ido dormir,
depois de ter beijado o que de mais belo há pra mim.
De mais importante.
E que há,
de ter repousado,
sem nem imaginar,
o que aquela boca,
aquela menina,
para alguém distante possa significar.
Um estranho teve por um momento o mundo de outrem.
E outros terão.
E como terão.
Mais do que eu jamais tive.
Mais do que eu jamais pensei em ter.
E mesmo assim,
Eu sonhei.
Eu cri.
E num último invejar,
me despeço.
Para nunca mais lembrar,
te recriar.
...
E na pureza de sua ausência,
um "oi" perdido acalenta.
Vivifica como se estivesse aí.
Como se sempre estivesse.
As palavras sempre foram nossos meios,
escritas,
grafadas.
Mas o mero pensar em você me acalma.
Me tira o poder de cravar em letras e sílabas.
Não posso mais invejar.
Só sinto falta.
Falta de algo que nunca tive.

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